quinta-feira, 18 de outubro de 2012

#Analogia (Parte II)

O eco dos meus pensamentos, é o que me traz aqui. Amanhã tem poesia em melodia, vários refrões que chamam seu nome. Um acordeão cansado de respirar por algum você que esqueceu de tentar.

"Eu sei, você esqueceu, de lembrar,
Eu sei, você esqueceu, de tentar,
Eu sei, você esqueceu, de voltar,
Eu sei, você esqueceu, de lutar,
Eu sei, você esqueceu, de ficar,
Eu sei, você esqueceu, de sonhar,
Eu sei, você esqueceu, como amar, como amar...
(Eu sei, você esqueceu) Veja o que aconteceu."

As promessas vazias de ontem, tornaram-se os cigarros apagados que restaram por esta nossa estrada bipartida. Transformaram-se em cinzas ébrias de saudade. Aos poucos, nestes meses arrastados, enxerguei a subtração dos momentos que perdiam-se em nós. Percebi a pequenez do que era maior, muito maior do que temos hoje, e então perguntei-me: Por que você foi embora de mim?
Se eu fechar os olhos, durante este silêncio selado pela monotonia de mais uma madrugada escura e sem luar - que transborda de tanto vazio - eu sei que ainda consigo esquadrinhar cada vão do seu quarto, do seu desarrumado, relembrar cada cigarro já compartilhado na janela adesivada do décimo andar.
Eu sinto a sua falta em mim, e ao acordar todos os dias quando olho para cima não encontro mais a sua caligrafia dizendo-me "Estou Aqui". É a partida anunciada pela mudez da sua ausência. Faz uma eternidade de horas, segundos e minutos que eu não escuto a sua voz. Eu olho para os arredores e percebo o quanto de você perdeu-se pelo caminho, o quanto de você eu tentei carregar com as duas mãos, ignorante de que aos poucos, sem a sua presença, isso tornaria-se cada vez mais insustentável. Cá estou, levando de ti, apenas as datas especiais. O amor é exceção, possui o infinito, mas eu não sinto seu peso.  
Dentre as notas minuciosamente escolhidas para compor ritmo e melodia que acompanham as letras de todas estas canções, eu consigo encontrar sentido e parafrasear outros amores, que de alguma forma, traduzem e descrevem o meu. É esta, a sintaxe semântica que dá impulso às batidas do meu coração; Inundar de metáforas, sinestesias e aliterações a realidade quase incapaz de descrever-se à risca, apenas com números exatos e significados literais.
É nesta meia hora passada de um novo dia, que ao som daquele mesmo acordeão cansado com a inércia exaustiva destes acordes sem você, que eu gosto de juntar-me às palavras descoordenadas, pensadas e repensadas, escritas, apagadas, reescritas e reposicionadas. Acompanham-me alguns cigarros - estes não mais compartilhados - e o cenário, é a mudez das minhas constatações. A brasa cálida é o paradoxo incandescente que eu enxerguei, faz alguns meses, em nós¹.Observo a fumaça perder-se no frio notívago de São Paulo, e quem sabe chegar até você. Por muito tempo, nestas mesmas horas correntes, eu esperei pelo seu próximo cigarro, e eventualmente até lhe ofereci alguns, mas vai ver, você nem sequer fuma mais.


¹Cada trago era um impulso, dava continuidade para não deixar que se apagasse. Ficava mais forte, mais intenso, em diferentes e contínuos hiatos de tempo. Em paradoxo, esgotava-se a cada segundo passado, e nós sabíamos. Seria chegada uma hora em que não haveria mais tabaco para queimar. Filtraríamos cinzas. (Analogia)

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