quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

#Poète

A gente se dói e deixa doer, pelas minhas, pelas suas palavras empoeiradas, escondidas por detrás da tela do meu celular. Acostumei a te esquecer, um pouco a cada dia, quase como uma contagem regressiva para não sentir mais.
A madrugada não é mais cenário de quem brincou de ser poeta, de quem despia seus pesares, suas tristezas lapidadas no branco do papel. Os rascunhos desconexos ficaram ébrios de vazio, e já faz algum tempo que em meus dias não há mais narrativa, poesia ou dissertação. Da rotina dos bares perdeu-se a rotina, das músicas doloridas perdeu-se a dor, dos meus olhos saudosos perdeu-se você.
A madrugada também não é mais cárcere preenchido pelo silêncio inexpressivo, que separa a cada dia, o meu coração do seu. E se quer saber, caso algum dia pare para ler, todas as nossas músicas fizeram mais sentido quando nós nos perdemos no trânsito da contra-mão.
Naquela noite em que tudo mudou, poderia ser só mais uma boemia, uma covardia, um anestésico para disfarçar. Já rasguei-me em mil partes, por mentiras ou verdades que eu jamais consegui entender. O mosaico das suas intenções era tradução da anomia que habita impiedosamente seu coração. Tudo o que eu percebi resumia-se à simplicidade de que você nunca me descobriu, e eu nunca descobri você.
Até que um dia, sem porquê ou para quê, a gente se dói e deixa doer. Eu senti o perfume da madrugada, das lembranças anêmicas no caos do sem querer. Eu fui capaz de reacender os meses atrás - através daquelas mesmas palavras empoeiradas por detrás da tela do meu celular. Despertei por alguns poucos segundos uma parte adormecida em mim. Que saudade de quem você brincava de ser, do que a gente brincava de esconder. Eu escutei a canção, naquele modo aleatório que de vez em quando gosta de surpreender. Eu fiz soma e subtração dos motivos que fizeram-me amar e desencontrar você.

"Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Pois meu bem, a vida só se dá, para quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
(...) 
Pra que somar se a gente pode dividir, 
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Aí de quem não rasga o coração,
Esse não vai ter perdão." - Como dizia o poeta, Vinícius de Moraes

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