sexta-feira, 17 de maio de 2013

#Analogia (Última Parte)

Eu olhei nos teus olhos, e talvez eu nunca mais esqueça aquele momento. Era dúvida, era tarde. Era o nosso próprio tempo. O que éramos nós ali? Você queria dizer, e eu por muito tempo quis escutar. Eram dois cigarros acesos ao mesmo tempo. Eram dois maços abertos em cima da mesa. Era muito tempo que passou na manhã tão cinza escondida por detrás do seu olhar. O meu era pôr-do-sol.
Eu não esqueci da cor dos seus olhos, e sei que nem você esqueceu a cor dos meus. 
Mas, então, quem eram as duas pessoas latentes e desarmadas, proprietárias dos olhares? Quem era você ali, querendo o quê, para quê, para quem.
Eu ouvi dizer nos acasos e desacasos, entre meses que encheram-se de significados: Quem fica pelas razões erradas, não fica por muito tempo. Quais eram as tuas razões? Qual foi o motivo para desempoeirar as palavras que ressurgiram por detrás da tela do meu celular? E o silêncio, pouco mudou. Quase não tinha voz, quase não tinha vida. Quase não existimos mais.
Não disse, mas foi para dizer. Tentou dizer. Parou na garganta e desceu outra vez. Pergunta. Mudez. Sorriso esvaziado não é resposta, e nem sei se eu queria tanto assim perguntar. Perguntaram por mim. Mudez. Desencontro de olhares, o tempo passou. E eu não descobri, nem trezentos e vinte quatro dias depois, o que esconde-se dentro de você. Terceira vez, mesma pergunta. Resposta. Nem tudo, nem nada. Sempre pela metade, aos meios, com fim mas não finalidade.
Acompanhei introdução, pontes e refrões com os lábios quase emudecidos. Um sopro tímido de um coração quase esquecido que os acordes do tempo perdido já pararam, há tantos meses, de tocar. Cantei pela última vez. E em uma contração do diafragma, para alcançar a nota mais alta da tempestade que se esconde por detrás dos teus olhos castanhos, inspirei vida, e expirei tudo de você que já morreu dentro de mim.
Eu olhei nos teus olhos, e talvez eu nunca mais esqueça aquele momento. Você voltou querendo tudo, como quem não quer nada, e no caos do desencontro, mesmo sem entender, nas entrelinhas das frases feitas, compreendi. Apareceu e desapareceu, mais uma vez, para esconder o que sempre se escondeu.
Ouvi seu último "adeus" em harmônica paz. Eu sorri ao olhar para os lados, por todo o tempo do mundo, pelas infinitas razões nem-tão-escondidas por detrás do meu olhar. A noite caiu majestosa sobre nós.
Para dizer que "nunca mais".

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