sábado, 28 de fevereiro de 2015

#Carnaval

Havia um número incontável de pessoas embebidas pelas marchinhas que vêm do trio. Elas preenchem, quase por completo, as ruas da cidade, em uma assimetria ritmada, tão bonita quanto um mosaico da própria arte. Há pouco espaço entre uma e outra mas todas dançam. Seria difícil, talvez quase impossível atentar-se a um ponto específico, a uma única singularidade diante de um todo tão encantador se não fosse àquela menina - o destaque dentre tantas e incontáveis alegorias, o meu único ponto de atenção. Eu até poderia lhes descrever os detalhes do cenário com maior dignidade e precisão, mas a culpa é dela por roubar a cena, os meus desejos, o meu roteiro, os meus planos, os últimos anos e com sorte o resto da minha vida inteira.

Quase soletro as palavras de tão devagar que me escapam. O dela, era  o desfile mais bonito. Meu olhar acompanhava cada segundo daquela valsa entre o brilho ofuscado das fantasias. Os cabelos indecisos, quase cachos quase lisos, escorriam-lhe os ombros. Não sei lhe dizer o que nela sorria mais, os olhos ou a boca.
O calor da rua, da festa, da música - tudo parecia ressaltar ainda mais a beleza da menina que encantava os demais. Eu era mais uma figura espectadora de sua platéia. Ela dançava em minha direção com a graça das estrelas nos olhos. Eu era a timidez de um sol nublado. Quando lhe tinha a atenção, saía detrás das nuvens e ousava acompanhar a menina-mulher mais bonita do baile. Ela me dava as mãos, me tirava para dançar. Eu retribuía o cortejo, e cercava-lhe as cinturas. Perdia todo e qualquer controle do meu próprio corpo ao tocar no dela. E o beijo, minha maior embriaguez. O mundo acontece enquanto eu fecho os olhos para beijá-la, mas as palpitações do meu coração são mais altas. Este momento poderia pendurar-se pela vida toda que eu não iria notar.