terça-feira, 22 de janeiro de 2013

#Treze

A distância calcula-se por uma estimativa de sete mil seiscentos e oitenta quilômetros de céu. Quem sabe os teus olhos não me encontrem lá em cima, no infinito azul petróleo pontilhado por incontáveis estrelas que iluminam os meus pensamentos. Eu quis voltar a escrever. Tudo o que penso, o que sinto, o que vejo, poetiza-se no branco do papel sem eu ter consciência.
Faltaram as palavras para quebrar a mudez constante dos nossos lábios. No entanto, a verdade paradoxal, é que eu nem sequer tinha o que dizer. A constatação veio em forma de pergunta, e passou como um bloco de carnaval pelo meu coração. Nada ficou no lugar. Nem você.
Eu - que antes escondia-me no vão das madrugadas e dissertava sobre algum você que esqueceu-se como amar - nem ao menos tentei entender o lapso inconsciente de acontecimentos que transformaram-me no melhor que posso ser. As madrugadas ébrias de vontade, trouxeram-me mais do que poderia eu, ter imaginado. Chegou dois mil e treze e eu inspirei o perfume da felicidade traduzida pelas doses incessantes de amor, uma embriaguez saudável. Traguei mil e um sorrisos que flanavam ao meu redor. Eu tive uma, duas, quase três epifanias em menos de um mês. Com a efemeridade deste vai e vem imprevisível arrogado aos meus dias, confesso que eu até enderecei algumas cartas, selei alguns envelopes no período da lua cheia sob as ondas do mar que cerca o horizonte infinito, e se funde na escuridão. No entanto, todos afogaram-se como os meus rascunhos deslocados, ofuscados pela palidez da lua decrescente que pedia redenção.
Em algumas poucas horas, marcadas pela contagem regressiva nos ponteiros do relógio, eu estarei muito longe daqui. Eu vou admirar o brilho da lua mais de perto e ela vai sorrir em seu quarto crescente. Eu vou me esconder na mudez da madrugada e talvez desta vez, você possa me ver. Na impontualidade dos nossos pensamentos, ou no descaso das nossas lembranças, eu vou continuar pelos sete mil seiscentos e oitenta quilômetros de céu, sem olhar para trás.
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"Beijo cálido no íntimo da noite, no escuro da noite, no silêncio da madrugada. A gente brinca de emudecer as palavras com a saliva misturada, no caos do desengano, nas doses destiladas para desculpar corações embriagados de cristalina lucidez."
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Eu aprendi a somar outra vez.