sábado, 23 de junho de 2012

#Acepção

Acordo sem vontade de escrever, faz algum tempo. Acabo por capitular os sentimentos, guardá-los e depois não ter onde colocá-los. Não suporto a ideia de publicar textos fora de ordem. Todos eles, sem exceção, são urgência, necessidade. Procrastinar, deixá-los para depois, é atestar o óbito das minhas palavras. Depois não serve mais. 
Existem alguns textos que eu escrevo e os guardo. A urgência do momento se desintegra com o tempo, se desencontra. De repente, por alguma razão, ao tentar publicá-los outra vez, percebo que não há mais espaço para aquelas palavras gastas. Expressaram, não expressam mais. 
Ontem, as mesmas frases que traduziam um coração, hoje são apenas mais alguns rascunhos esquecidos que não entraram para a história, perderam-se entre dias atropelados. Juntam-se com tantos outros deslocados - cinquenta e três, para ser mais exata - sem motivos para exposição. Perderam o sentido, serão para sempre textos enterrados, sem ordem cronológica ou razão para reler.
O sentimento muda, a realidade muda. O tempo não pára. Olho para trás e observo a efemeridade, a volatilidade capaz de levar a tudo e a nada, o nosso humor.
Acordo sem vontade de escrever, faz algum tempo. As palavras sempre foram grandes aliadas, gosto de usá-las, gastá-las, cuspi-las em uma folha em branco, mesmo que na desordem, com a finalidade de expressar toda esta vida, estes pensamentos e sentimentos que correm pelas minhas veias sem pedir licença.
A impulsividade, o lirismo apaixonado, as hipérboles sempre foram meus maiores adjetivos. Existem inúmeras vertentes que convergem, divergem, que direcionam as condutas; Porém, para mim só existem duas principais:
O amor e todo o resto.

"Eu perdi as palavras. Na verdade, estou repleto delas. Não tenho é coragem pra falar." - Esteban Tavares

domingo, 17 de junho de 2012

#Hipocrisia

Eu não faço questão, nem aos pormenores, de adaptar-me a uma sociedade completamente doente. Escrevo com a mais sincera lástima ao dizer que os valores agregados e percebidos são cada vez mais hipócritas e complacentes com a realidade que nos encontramos. Moral, ciência, política, religião, amor. São inúmeras informações divergentes que visam definir qual a conduta e a postura coerente que nós indivíduos, devemos adotar perante a sociedade. A verdade é simples, é lógica e está explícita ao nosso redor, em todos os cantos do mundo: Doente não somos nós que não atendemos aos requisitos impostos desde que nascemos para sermos aceitos. Doente, é o pseudo-discurso de igualdade que ouvimos todos os dias, enquanto a ignorância e a sanção social exercida por fanáticos religiosos, racistas, homofóbicos e outros tipos de intolerantes, coexistem sobre os que recusam submeter-se as suas ideologias, ditaduras e crenças unilaterais. Dia-pós-dia, por debaixo dos palanques que abrigam tais discursos, os palestrantes (geralmente figuras públicas e/ou políticos) em grande parte das vezes, estão apenas defendendo seus próprios interesses egoístas e ambiciosos.
Menosprezo também a perfídia, a hipocrisia das mentes adeptas à concepção de normalidade em relação aos absurdos que cercam nosso cotidiano. O horror transcrito nas manchetes de jornais, programas televisivos, notícias de rádio; Tornou-se comum lermos, vermos e ouvirmos toda a barbárie que o ser humano é capaz de cometer nas ruas, instituições de ensino, lugares públicos, estabelecimentos e principalmente, dentro de casa. Corrupção, desigualdade, miséria, ignorância, genocídio, homicídios, terrorismo; Aprendemos a lidar e aceitar com abrupta naturalidade todos estes "cânceres" da sociedade. É lamentável admitir que a lei do mínimo esforço impera majoritariamente na consciência coletiva dos indivíduos. Poucas são as exceções que buscam de maneira efetiva, alterar os parâmetros equivocados que nos precedem e possuem poder coercitivo a cada nova geração. Percebo que aos olhos da ignorância, abominável e incomum não é a fome, a pobreza, os crimes, o vandalismo. Todos estes fatores são rotineiros, indignos de atenção. Para a cegueira dos intolerantes, os absurdos estão presentes nas diferenças étnicas, no amor entre pessoas do mesmo sexo, na devoção à algum outro Deus que não lhes agrade. É vergonhoso notar evidentes defeitos humanos, que ainda existem após séculos e milênios de evolução: A arrogância, a prepotência, o egocentrismo e a mania petulante que temos ao pensar que nossos valores são superiores aos dos outros, e não obstante, ainda sermos egoístas o suficiente para acharmos que o mundo é apenas nosso, e desta forma, impor nossas verdades vazias e desprovidas de real significado sobre o outro, sem reconhecer que todos nós temos direito de escolha e opinião. As disparidades, a heterogeneidade das partes e a diferenças criadas são exatamente o que move o mundo sentido à evolução, ao aprendizado. Enquanto disseminarmos a hipócrita conduta regrada por ditaduras que não nos permitem questionamentos, enquanto criarmos em nós mesmos falsas imagens de defensores da igualdade, mas em simultâneo não permitirmos que nossos filhos tenham sua própria orientação sexual, que nossos vizinhos tenham outro Deus, que nossa família integre membros de diversas culturas, nós seremos eternamente presos à elos que não nos deixam guiar até à harmonia, à compreensão, à aceitação, ao amor sincero capaz de transformar-nos no melhor que podemos ser.

sábado, 16 de junho de 2012

#Excesso

Perco meus pensamentos em inúmeras informações que pouco importam. Existem todos os tipos de fala ao meu redor, e a maioria delas incomoda. Existem pessoas que falam o que pensam, aquelas que pensam no que falam, e aquelas que falam sem pensar. Destas todas, poucas despertam-me interesse. Aprecio o incomum, os detalhes despercebidos.
O silêncio dos teus olhos, é o seu maior discurso. É um monólogo sem pausas, o momento em que tudo o que esconde-se dentro de você, se entrega da mais sincera maneira para mim. Perco-me na profundidade do seu olhar e sinto-me mais perto do seu coração. É confortável te ouvir dizer tanto, sem usar palavra alguma. Eu aprendi a interpretar teus sinais, mas confesso ainda ser ignorante de você.
O amor é um espectro de cores e significados, um prisma multifacetado que não nos permite definição. E eu procuro, por alguma razão, entender o que transcende em cada um de nós, quando sentimos que o amor - em sua mais pura forma - é capaz de nos fazer mudar, nos transformar no melhor que podemos ser, em troca apenas de um sorriso sincero vindo do outro coração.
Quando o meu está junto ao seu, somos maiores. Fazemos parte de um universo paralelo, uma dimensão inalcançável para os infortunados que não sabem amar assim, como nós. Somos exceção à regra, metades mal-dividas que encaixam-se melhor do que todo o resto. Somos par, somos ímpar; O que quisermos ser. 
Eu te procuro nos cantos, nas lembranças, nos momentos a sós. Qualquer inconstância que preencha o vazio dos meus dias quando estou sem você. Culpo sem nenhum pesar, esta vontade insaciável de beber tuas doses, de pedir o seu toque ao menos, mais uma vez.
Se amar aos excessos for crime inafiançável, saiba que sou egoísta demais para hesitar ou revogar ao que dá cor e forma às minhas vontades e felicidades. Poetizo as noites, as dores, os gostos. Sou inconstante, sou tudo, sou nada. Sou só o som das batidas de um coração que te agrada, uma voz que chama pelo teu nome todos os dias e noites; Um mártir da sua existência.

"Como é estranha a natureza 
morta, dos que não tem dor.
Como é estéril a certeza, 
de quem vive sem amor..." - Cazuza

sábado, 2 de junho de 2012

#Dezesseis

Percebo-me constantemente fazendo música das minhas palavras. As projeto em um futuro desconhecido, para ouvintes desconhecidos, que compartilhem as mesmas dores e alegrias vividas. São palavras doídas que traduzem o pesar escondido dentro de mim, desde que senti o seu gosto pela última vez. Cansei.
Aprendi que eu nunca soube valorizar o amor da devida maneira, sempre hipostasiei suas qualidades, ao passo que cegava-me para seus defeitos. O amor é um espectro de cores e significados, e eu só enxergava os que convinham com o meu hiperbólico lirismo apaixonado.
Sempre amei sem perguntar, sem pedir licença, sem pedir perdão. Afinal, a vida nos foi entregue para que vivêssemos sem colocar os medos na frente dos nossos sonhos. Porém, nem mais os sonhos fazem com que eu escape das celas frias da realidade. Assim como tudo ao meu redor, eles me guiam todas as noites até você. Lamento apenas, eu ter esquecido de um tipo de amor fundamental. O amor próprio. Este amor, em conjunto com os demais, compõe a simetria entre um eu e um você, completamente vinculados à elos que não nos permitem dizer adeus. 
Por muitas horas espero por palavras que você pode nunca dizer. Espero por pedidos que você pode nunca fazer, e espero com o coração aberto de tanto sofrer - aberto só para você. Não deixo ninguém mais entrar, muito menos que ousem tirar qualquer coisa do lugar, pois quero admirar tudo a minha volta exatamente como você deixou.
Nas horas restantes, forço-me a lembrar de todas as mentiras que você ousou contar com finalidades desconhecidas, provocando cicatrizes escondidas, e não teve coragem de desculpar-se para curar um alguém que só te quis bem, que só quis enxergar seu melhor, mesmo quando tudo o que você mostrava de ruim, estava explícito em sua voz.
Pode retirar sua máscara e as suas intenções destiladas, eu enxergo a verdade em teus olhos descobertos, em cada sílaba da sua voz falha. Hoje eu percebo, a culpa não é minha.
Nunca foi.