terça-feira, 23 de abril de 2013

#Catorze

É como a contra-mão inexorável daquelas pancadas repentinas. Bombas de morfina para anestesiar os sentidos perplexos. Aquele choque sem precedentes. Esconde-se uma vida inteira dentro de alguns poucos segundos. 
Eu me perdi, na imensidão azul petróleo, pontilhada por infinitas estrelas que iluminam os meus pensamentos. O acidente, o trauma, a dor. Eu senti, e descobri que estava viva simplesmente por sentir, pois há muito tempo eu havia me esquecido pelos cantos, ao longo da palidez do caminho bipartido. Desmontei-me lentamente, e encontrei em meio ao vazio, um coração resguardado, entupido e entalhado de cortes profundos e feridas em processo de cicatrização.
Eu não percebi o que viria depois. Eu não sabia lidar com o vento cortante que implorava para que eu mudasse a direção. Havia ao meu redor inúmeros "lás" que meus olhos marejados, cansados de enxergar, cegos por lágrimas e decepções constantes, insistiam em ignorar.
Eu segui o infinito, pois para mim, as palavras e promessas nunca foram vazias, desprovidas de verdade. Eu tive fé e coragem para honrar os inúmeros significados gravados à tinta e sentimento nos tecidos da minha pele. Eu pintei o horizonte infinito e segui do jeito que eu acredito. E eu cheguei, em um lugar só meu. 
Dentre os meses em que eu redescobria as minhas partes, tentava colar e rearranjar - com a minha hiperbólica crença no romance perdido, mas não extinto - o mosaico de mim.
Encontrei a cura no amor. O amor é a melhor parte de todos nós - o prisma multifacetado que não nos permite definição. Eu caminhei lentamente, tentando me desvencilhar dos cacos quebrados, dos corpos celestes que poderiam intervir no meu processo de auto-reconstrução. Eu só deixei as janelas abertas para entrar a luz solar tímida dos dias nublados, nos cômodos do meu coração. E entrou mais do que isso. Entrou sorriso, entrou olhar, entrou corpo e alma. E eu, mesmo despida de qualquer certeza, deixei você entrar. Eu me apaixonei de olhos fechados, sem teto, sem tato. No caos do sem querer, lá estávamos eu e você. Desculpando corações embriagados de cristalina lucidez. Era samba, amor e madrugada. O frio da noite fazia paradoxo com o calor da rede, da saliva misturada. Eu senti a brisa cortês soprando em meus ouvidos a paz que eu tanto almejei nas mesas de bares e em lugares fechados com sons mais altos do que eu queria escutar. Passei do rock nacional para o samba da velha guarda. Ambos se eternizaram em mim, e todo o resto foi carnaval.

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