Tudo era silêncio. A cor era sombra da noite. Eu não tinha voz, mas queria dizer. Traduzir um coração compassado no samba simples de canto e violão. Rimar os teus versos mudos, quem sabe um piano, ou talvez não.
Eu me esperei nas esquinas, nas mesas de bares, em lugares fechados com sons mais altos do que eu conseguia escutar. Saí sem anunciar, sem despedir, sem avisar.
- Seu nome. Sussurrei.
Era rua, era asfalto frio da madrugada. Ninguém.
Eu imaginei, eu chamei, eu pensei que poderia ser você, que poderia existir você, ali. Nua, crua. Sem adjetivos para descrever, como quem é cinza e quer brincar de aparecer.
As tuas ligações rápidas, calculadas para viciar. Você aparece na tela do meu celular, e logo desliga, emudece, para de falar. Eu degusto incompreensão, nos lábios, nos ouvidos, no coração. Entre meias palavras e intenções destiladas, tudo o que sei é que eu me perdi, ali, no frio, no asfalto irregular, na cor de sombra da madrugada.
-
Treze de julho. Dois mil e doze.
"
-
Último dia do mês de março. Dois mil e treze.
Eu não sei sentir pouco, aos poucos, ao meio. Eu gosto de sentir meus olhos refletirem o brilho de outro olhar. Coração vazio é cárcere, sinônimo declarado da sobrevida apática de quem não sabe amar.
A sua voz e poucas sílabas. Duas, três, ou talvez quatro horas da manhã. No vão dos meus pensamentos, elas ecoam incessantemente, como uma verdade boa demais para acreditar.
É simples, é complexo. É apego, desapego por cinco minutos, até querer outra vez. É certo? É errado? Há quem concorde, quem discorde, há quem não queira opinar. No entanto, como assentes protagonistas, é muito tarde para olhar para trás, para dizer que tanto faz.
Não sei sentir pouco, não sei sentir aos poucos. A verdade é que a gente se vicia sem perceber. Sorriso. Voz. Olhar. Um toque no sereno da madrugada, lá nos trezentos quilômetros de distância de São Paulo. Em São Paulo. Em qualquer lugar. Na urgência da cidade, há quem pare para observar a soma de nós dois - que tornou-se apenas um. Sim, é verdade o que dizem alguns poucos e loucos. Ainda existe amor por aí. Sem preço, sem rótulo, sem condições para doar. Eu te encontrei, e não foi nas esquinas, nas mesas de bares, em lugares fechados com sons mais altos do que eu conseguia escutar. Eu te encontrei dentro de mim. E você estava lá há muito tempo, como quem não quer nada, trocando tudo de lugar.
"Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você." - Legião Urbana