domingo, 31 de março de 2013

#Outono

Algum dia do mês de março. Dois mil e treze.
Tudo era silêncio. A cor era sombra da noite. Eu não tinha voz, mas queria dizer. Traduzir um coração compassado no samba simples de canto e violão. Rimar os teus versos mudos, quem sabe um piano, ou talvez não.
Eu me esperei nas esquinas, nas mesas de bares, em lugares fechados com sons mais altos do que eu conseguia escutar. Saí sem anunciar, sem despedir, sem avisar.
- Seu nome. Sussurrei.
Era rua, era asfalto frio da madrugada. Ninguém.
Eu imaginei, eu chamei, eu pensei que poderia ser você, que poderia existir você, ali. Nua, crua. Sem adjetivos para descrever, como quem é cinza e quer brincar de aparecer.
As tuas ligações rápidas, calculadas para viciar. Você aparece na tela do meu celular, e logo desliga, emudece, para de falar. Eu degusto incompreensão, nos lábios, nos ouvidos, no coração. Entre meias palavras e intenções destiladas, tudo o que sei é que eu me perdi, ali, no frio, no asfalto irregular, na cor de sombra da madrugada.
-
Treze de julho. Dois mil e doze.
"Se realmente quisesse estar ao meu lado, o horizonte seria infinito, as possibilidades não caberiam em uma folha de papel e o seu olhar seria para sempre, um retrato de todos os diasEu te dei todas as chances, você as recusou. É hora de partir. Não há mais nada que eu possa fazer, senão buscar minha felicidade em algum outro lugar, junto de algum outro alguém que se orgulhe de olhar para mim e dizer claramente que do meu lado não sairá." 
-
Último dia do mês de março. Dois mil e treze.
Eu não sei sentir pouco, aos poucos, ao meio. Eu gosto de sentir meus olhos refletirem o brilho de outro olhar. Coração vazio é cárcere, sinônimo declarado da sobrevida apática de quem não sabe amar.
A sua voz e poucas sílabas. Duas, três, ou talvez quatro horas da manhã. No vão dos meus pensamentos, elas ecoam incessantemente, como uma verdade boa demais para acreditar.
É simples, é complexo. É apego, desapego por cinco minutos, até querer outra vez. É certo? É errado? Há quem concorde, quem discorde, há quem não queira opinar. No entanto, como assentes protagonistas, é muito tarde para olhar para trás, para dizer que tanto faz.
Não sei sentir pouco, não sei sentir aos poucos. A verdade é que a gente se vicia sem perceber. Sorriso. Voz. Olhar. Um toque no sereno da madrugada, lá nos trezentos quilômetros de distância de São Paulo. Em São Paulo. Em qualquer lugar. Na urgência da cidade, há quem pare para observar a soma de nós dois - que tornou-se apenas um. Sim, é verdade o que dizem alguns poucos e loucos. Ainda existe amor por aí. Sem preço, sem rótulo, sem condições para doar. Eu te encontrei, e não foi nas esquinas, nas mesas de bares, em lugares fechados com sons mais altos do que eu conseguia escutar. Eu te encontrei dentro de mim. E você estava lá há muito tempo, como quem não quer nada, trocando tudo de lugar.

"Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você." - Legião Urbana