sábado, 22 de dezembro de 2012

#Freiheit

As dúvidas alagam meus pensamentos, como a chuva de quase vinte e quatro horas que cai insistente do lado de fora. Eu pensei em parar de escrever. Afoguei-me em minhas próprias palavras. Não há mais motivo para despir minhas intenções. Não há mais o que dizer, ou o porquê dizer.
Então, nestas últimas horas no íntimo de uma noite qualquer, eu traio minha própria indecisão. Eu misturo música e poesia no vão das madrugadas vazias. Um violão novo, mesma canção, meio tom acima. Desvio da linha tênue que separa o conforto e o prazer do risco de vida. A monotonia é demasiada amarga, quase impossível de tragar ou beber, ébria de vazio, incapaz de completar as frases rimadas do samba da velha guarda.
Por isso, você.
Eu encontrei por aí, na rotina dos bares, jogadas, as suas palavras que por muito tempo ficaram escondidas por detrás da tela do meu celular. Eu li. Eu reli. E após alguns poucos minutos de reflexão, eu compreendi.
Eu me esqueci de nos lembrar. Esqueci como construía suas frases, como costumava me chamar. Apesar dos meses somados que preenchem a distância débil entre nós, cada vírgula soava familiar. Seus agrados, suas intenções disfarçadas, suas verdades nuas de significado. O silêncio dos cantos, dos teus desencantos, contrasta com a inquietude do coração inabitado, e a ressaca do seu olhar machuca a inocência de quem tenta te amar.
Se este fosse o último dia de nossas vidas, se existisse no relógio uma contagem regressiva, algo iria mudar?
Um minuto para decidir. Uma vida para esquecer. Vinte três e cinquenta e nove, e nada de você aparecer. Embriaguei-me de desatenção - um mecanismo de defesa com propriedades antálgicas. Encantei-me com o caos da superfície. A boemia transformou-se em sinônimo de covardia para curar, e eu deixei o tempo passar. No entanto, reencontrar as suas palavras, e um pouco mais do que isso, ser capaz de senti-las, é perceber de forma indolor, a solidez do que o tempo não pode apagar.

"Do nada em mim, o amor fez o infinito" - Vinicius de Moraes

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

#Rosas (parte II)

Eu gosto do silêncio. Da poesia da bossa nova, do vão das madrugadas, dos sonhos sem significado. Saudade é soma e subtração. É no silêncio da saudade que eu aprendo a discernir o certo e o errado, as notas que precedem o refrão.
O que esconde-se nas entrelinhas das frases feitas? Alguns versos anêmicos, nos cantos, nas paredes, na contra-mão. O subentendido suicídio das palavras, o eco contínuo da nossa mudez. A noite é sempre mais escura antes do amanhecer. Só vai, só sai. Quanto mais eu encontro, mais eu quero perder. Quanto mais eu descubro, mais eu quero esquecer. A máscara reveste o rosto, esboça o sorriso mas não acoberta o olhar. Quem poderia dizer que em pouco mais de meia duzia de bilhões de pessoas, eu iria encontrar e desencontrar você.

"Tento compor o nosso amor
Dentro da tua ausência
Toda a loucura, todo o martírio
De uma paixão imensa
Teu toca-discos, nosso retrato
Um tempo descuidado

Tudo pisado, tudo partido
Tudo no chão jogado
E em cada canto
Teu desencanto
Tua melancolia
Teu triste vulto desesperado
Ante o que eu te dizia
E logo o espanto e logo o insulto
O amor dilacerado
E logo o pranto ante a agonia
Do fato consumado

Silenciosa
Ficou a rosa
No chão despetalada
Que eu com meus dedos tentei a medo
Reconstruir do nada: 

O teu perfume, teus doces pelos   
A tua pele amada
Tudo desfeito, tudo perdido
A rosa desfolhada." - Vinicius de Moraes

domingo, 11 de novembro de 2012

#Despedida (parte II)

Os seus olhos procuram em silêncio pelas minhas palavras, e eu tentei por muito tempo decifrar as suas. Eu posso sentir a sua respiração pesada nos cantos dos meus dias, como a luz solar tímida dos dias nublados. Diálogo mudo. Você vem me visitar durante as madrugadas embriagadas, nas primeiras horas arrastadas, após diagnosticar-se com a insônia impiedosa que faz as noites demorarem um ano para passar.
N
em de longe a gente pode disfarçar, o que há por trás da pele. 
Nós somos dois pontos distintos presentes na reta infinita que cerca o horizonte. As mesmas noites que confortam, tiram-me o ar. Só deixe-me respirar, expirar você.
Dentre todas as madrugadas em que eu me perdi traduzindo meu coração, esta foi singular. Aprendi que amor rima com liberdade. Percebi também que sou como um barco em alto-mar, sem bússola ou noção de cartografia. Não sei discernir em que direção eu devo remar, e confesso que sou constantemente atraída pela contra-mão. Estes últimos dias foram sinônimo de escassez das minhas palavras. Só havia em hiatos consideráveis de tempo, a reclusão dos meus rascunhos, somados, multiplicados, que fundiam-se como produto de um carnaval sem samba, perdidos, desconexos como um risco em uma mesa de bar. Entre nós existe apenas o vazio, semelhante àquele que você deixou em mim. Mas será que no corpo de um outro alguém, meu coração pode funcionar bem, melhor? Todas as introduções, pontes e refrões, fizeram-me tomar esta última decisão. Mudez.
-
"É a mesma voz que expressa o silêncio das minhas mais altas reflexões. É a voz que acompanha os acordes errados, e poetiza cada nota que transborda significados. É a voz que escreve e compõe durante as madrugadas caladas, um pouco de mim, no branco do papel. É a voz que está perto, tão perto, a única capaz de chegar ao seu coração. É a voz pausada, nos hiatos de tempo que constroem o discurso, a nova canção. É voz guardada, que por muitas vezes te chamou calada. A minha voz."
Não mais.
-
Nas últimas horas de sexta-feira havia um sentimento que flanava entre o céu aberto, e marcava nos termômetros apenas doze graus - temperatura superior àquele frio cáustico presente em seu coração. Era uma noite atípica, fora da rotina encarcerada, que acendeu em mim uma faísca de sobriedade e razão. Não há remédio que nos faça voltar no tempo. 
Eu podia admirar São Paulo por alguns quilômetros de extensão. Os focos de luz ao longe somavam-se e subtraiam-se, como uma melodia ritmada, e em algum deles poderia estar você. Eu consigo sentir, mas não posso ver. Tenho a constante sensação que os seus olhos me acompanham, e eu tento de todas as formas, ignorar. Nas lembranças anêmicas, nas paredes, nos sonhos desprovidos de significado. Mas a verdade é que não há mais motivo para eu tentar fazer você voltar, se o que você faz é o que me faz pensar, que o que você quer, é alguém para ocupar o lugar (de quem não vai voltar). Eu também perco o sono, e ao lembrar-me de onde estava antes de acordar, prefiro não dormir outra vez. Após inúmeras noites que eu passei perdida na escuridão, finalmente compreendi: Eu tenho um milhão de estrelas só para me guiar. 
Por muito tempo tentei desvendar o sorriso esboçado, pintado na palidez do seu rosto, mas só depois de quase afogar-me em dúvidas, no fel que amarga a distância entre nós, eu desisti de tentar. Tentar encontrar, mostrar, provar, ou simplesmente estar. Não adianta acenar para olhos que não querem enxergar. O suicídio começa por dentro. Eu sinto muito. Esconde-se por vaidade, mas o vazio inexpressivo do seu olhar é incapaz de mentir. Eu sei que é por detrás destes seus olhos constantemente marejados, cegos de tanta razão irracional, que mascara-se sua maior verdade: Não está.
Então, diga. Apenas permita-se dizer e escutar. Seria diferente se você soubesse que aquela seria a última vez? Espero que algum dia alguém consiga fazer do seu coração, uma moradia. Eu vou guardar o seu último olhar, seu monólogo sem pausas.
Selei o adeus de tudo o que o nosso silêncio tinha para me dizer.

‎"E uma vez que a gente entra, vira um hábito. Parece que não vai conseguir sair. A gente quase não quer sair. E de repente sai. Completamente." - Charles Bukowski

Saí.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

#Analogia (Parte II)

O eco dos meus pensamentos, é o que me traz aqui. Amanhã tem poesia em melodia, vários refrões que chamam seu nome. Um acordeão cansado de respirar por algum você que esqueceu de tentar.

"Eu sei, você esqueceu, de lembrar,
Eu sei, você esqueceu, de tentar,
Eu sei, você esqueceu, de voltar,
Eu sei, você esqueceu, de lutar,
Eu sei, você esqueceu, de ficar,
Eu sei, você esqueceu, de sonhar,
Eu sei, você esqueceu, como amar, como amar...
(Eu sei, você esqueceu) Veja o que aconteceu."

As promessas vazias de ontem, tornaram-se os cigarros apagados que restaram por esta nossa estrada bipartida. Transformaram-se em cinzas ébrias de saudade. Aos poucos, nestes meses arrastados, enxerguei a subtração dos momentos que perdiam-se em nós. Percebi a pequenez do que era maior, muito maior do que temos hoje, e então perguntei-me: Por que você foi embora de mim?
Se eu fechar os olhos, durante este silêncio selado pela monotonia de mais uma madrugada escura e sem luar - que transborda de tanto vazio - eu sei que ainda consigo esquadrinhar cada vão do seu quarto, do seu desarrumado, relembrar cada cigarro já compartilhado na janela adesivada do décimo andar.
Eu sinto a sua falta em mim, e ao acordar todos os dias quando olho para cima não encontro mais a sua caligrafia dizendo-me "Estou Aqui". É a partida anunciada pela mudez da sua ausência. Faz uma eternidade de horas, segundos e minutos que eu não escuto a sua voz. Eu olho para os arredores e percebo o quanto de você perdeu-se pelo caminho, o quanto de você eu tentei carregar com as duas mãos, ignorante de que aos poucos, sem a sua presença, isso tornaria-se cada vez mais insustentável. Cá estou, levando de ti, apenas as datas especiais. O amor é exceção, possui o infinito, mas eu não sinto seu peso.  
Dentre as notas minuciosamente escolhidas para compor ritmo e melodia que acompanham as letras de todas estas canções, eu consigo encontrar sentido e parafrasear outros amores, que de alguma forma, traduzem e descrevem o meu. É esta, a sintaxe semântica que dá impulso às batidas do meu coração; Inundar de metáforas, sinestesias e aliterações a realidade quase incapaz de descrever-se à risca, apenas com números exatos e significados literais.
É nesta meia hora passada de um novo dia, que ao som daquele mesmo acordeão cansado com a inércia exaustiva destes acordes sem você, que eu gosto de juntar-me às palavras descoordenadas, pensadas e repensadas, escritas, apagadas, reescritas e reposicionadas. Acompanham-me alguns cigarros - estes não mais compartilhados - e o cenário, é a mudez das minhas constatações. A brasa cálida é o paradoxo incandescente que eu enxerguei, faz alguns meses, em nós¹.Observo a fumaça perder-se no frio notívago de São Paulo, e quem sabe chegar até você. Por muito tempo, nestas mesmas horas correntes, eu esperei pelo seu próximo cigarro, e eventualmente até lhe ofereci alguns, mas vai ver, você nem sequer fuma mais.


¹Cada trago era um impulso, dava continuidade para não deixar que se apagasse. Ficava mais forte, mais intenso, em diferentes e contínuos hiatos de tempo. Em paradoxo, esgotava-se a cada segundo passado, e nós sabíamos. Seria chegada uma hora em que não haveria mais tabaco para queimar. Filtraríamos cinzas. (Analogia)

domingo, 14 de outubro de 2012

#Rosas

É assim que os nossos caminhos se entrelaçam, na impontualidade dos nossos pensamentos, no descaso das nossas lembranças. Pois na exatidão, é tudo tão cinza. Confesso que em horas madrugadas de insônia, eu sinto falta de ouvir a sua voz cansada. Perco-me no silêncio das minhas mais altas reflexões, e em uma dessas noites qualquer, eu pude jurar que o seu perfume veio me embriagar. É como se eu pudesse descrever com palavras invisíveis, a saudade que nos transpassou nestes sete, oito quilômetros que nos separam todas as noites. A distância física é só mais uma das formas que deixa o seu coração longe do meu.
Marginalizar um amor, é produto do ceticismo ártico que arroga-se aos corações inaptos a amar. São aqueles que ao invés de cores e flores, restringem-se a exatidão cinza, impossível de poetizar. E assim, o tempo nos leva, e grava nas lápides mais dois nomes que desistiram de se importar. Mas este seu perfume, contido na brisa das madrugadas que me tiram a paz, pode ser o antídoto que nos salve dos clássicos intrínsecos de todos aqueles lirismos subjetivos, e que quem sabe, algum dia, nos traga a utopia do felizes para sempre, que nós ousamos tatuar.
A primeira rosa nasceu há mais de cinco mil anos atrás, e elas vieram dos jardins asiáticos para a mesa envidraçada da sua sala de jantar. Esta é a melhor, senão a única forma que eu encontro de te fazer lembrar. E que elas, as rosas, sejam sempre nossa marca. Uma pétala de amizade, uma de amor, e outra de saudade. Que elas perpetuem, eternizem e imortalizem, todas as verdades que eu e você, tentamos calar.
Parabéns.

domingo, 30 de setembro de 2012

#Finalidade

O som da sua voz é um navio quebra-gelo que vem me acordar. Por muito tempo esta revelou-se a melhor forma que eu encontrei de traduzir o silêncio que preenche as lacunas entre o passado, o presente e o futuro, entre um eu e um você que não mais falam a mesma língua. Porém, a verdade é que não é mais cabível a mim, faz algum tempo, nos dissertar. Não mais encontro sentido. Talvez fim, mas nunca finalidade. No entanto, o que é amar, senão aquele prisma multifacetado que não nos permite definição?
Eu queria ouvir do seu coração para o meu, tudo o que os seus atos vazios consolidam de forma rudimentar. Faz tempo, faz tanto tempo. Todo o tempo, eu te carrego como uma ausência pesada, quase impossível de sustentar. É com esta sua falta que eu ainda não aprendi a lidar.
E que sorriso lindo você tem. É uma lástima, eu concordo, ser tão esvaziado de sinceridade. Tão desabitado quanto o coração daqueles que não aprenderam a amar. Eu sei, mas quase ninguém mais sabe. São os seus olhos que te denunciam. Por acasos e algum lapso de coincidência, por alguns poucos minutos de desatenção, eu pude comparar, metaforizar, poetizar o seu olhar. O silêncio insatisfeito arroga-se a embriaguez deste frio depresso que tomou conta de você. A saudade que escorre pelos olhos, denuncia calada o cárcere das consequências que você escolheu. Ninguém é feliz sem enfrentar seus medos, seguir seus sonhos e permitir-se amar sem medidas. Vamos nos permitir. Sim, sorrir. Mas sorrir com vontade e conteúdo, por esta infinidade de sentimento que eu, você, que nós carregamos no coração, e para além deste, pois és tão visível; Está gravado, eternizado, vincado aos tecidos da pele. Quem ousa discordar? 
Não contente-se jamais, com as cinzas que sobraram por todas estas escolhas erradas. Eu só queria ser capaz de te ver feliz. Quando nos cansamos de buscar saídas com olhos vendados, percebemos uma obviedade tão lógica, tão simples: Menos com menos dá mais. E o amor, meu amor, é matemática irracional. Não há nada neste mundo, capaz de calcular um amor, nem sequer, uma única lágrima de saudade. Ceticismo demais, monotonia da conveniência. Eu quero mais, e você mal sabe o que quer. Eu não tenho medo de cair, você nem ao menos tenta voar. Tentei por tantas vezes, tanto tempo, tantas vias, mas o fel da sua boca, é selado por um silêncio exausto de tanto gritar. Ele ecoa nos corações de todos aqueles que aprenderam a amar.
O seu sorriso está guardado, e eu espero que um dia tenha coragem de vir buscá-lo. Meu bem, nos fez tão mal, saiba que a felicidade só acompanha quem não tem medo de dançar e cantar suas tristezas, seus traumas e seus medos, em pleno carnaval.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

#Cem

"Tira a maquiagem pra que eu possa ver
Aquilo que você se esforça pra esconder
Agora somos só nós dois, já podes parar de fingir
Mas cala essa boca e me diz com o olhar
Quem era você até me encontrar?
Se agora és diferente
O que eu fiz que te fez mudar?
Eu lembro dos lábios
Tremendo ao dizer
'Eu não vivo sem você'
Então diga
Que não vai sair da minha vida
Diga que não passa de mentira
Quando dizem que o amor morreu
Tira essa roupa pra que eu possa ver
Se não há uma arma tentando se esconder
O mal vive num lar perfeito e sem infiltração
Tira o cabelo da cara e me diz
Se por um segundo quiseste me ver feliz
Ou se és o meu destino tentando me dar outra lição
Eu lembro de cerrar os punhos pra dizer:
'Eu não amo mais você'
Então diga
Que não volta mais pra minha vida
E que a nossa estrada é bipartida
Esquece o dia em que me conheceu
Então diga
Que nem todo dinheiro dessa vida
Não vai comprar de volta acolhida
No peito de quem já foi todo seu
A casa é minha, mas pode ficar
Eu volto amanhã e não quero mais te enxergar
Faça as suas malas e nunca mais volte aqui
E eu juro pela vida da mãe e do pai
Ciente do peso da expressão 'nunca mais'
Volte a oferecer teu corpo a quem preferir
Viver ao lado de quem não tem nada pra dizer
Confesse pra mim de uma vez
Mas diga
Que nunca foi feliz nessa tua vida
Teu texto, teu sorriso de mentira
Pode enganar a todos, não a mim
Então diga
Que essa mão que acena na partida
Por tantos idiotas pretendida
É a mesma que decreta o nosso fim
Assisto ao teus passos como a um balé
Quem vais usurpar agora que ninguém te quer?
A verdade demora mas chega sempre sem avisar
E o grito contido no teu travesseiro
Ecoa nos lares do mundo inteiro

Não tira esse rímel, pois hoje quero vê-lo
... borrar" - Diga Parte II

S
e algum dia sentir minha falta, lembrar-se de mim, conforte-se com a única verdade que você ainda não destruiu: Estamos, eu e você, sob o mesmo céu, com o mesmo infinito gravado na pele - a tinta e sentimento - como se carregássemos uma promessa vazia de quem nunca quis dizer adeus.   

domingo, 9 de setembro de 2012

#9/9

Com olhos ansiosos, esquadrinhei o espaço. Uma pausa, um momento. Matemática irracional; Tantas pessoas, e a soma dava zero. Era a partir dali que nós fugíamos, inúmeras tardes e noites clandestinas, um infinito particular. São lembranças que nunca vão se apagar. 
Confesso que procurei em tantos rostos vazios - que por mim passavam desavisados - a sua feição. Resultado, desatenção. Ninguém soava familiar. Entre aquelas milhares de vidas que se entrecruzavam, não havia alma singular capaz de aconchegar o vazio que enchia-me a cada novo segundo.
E então, como um lapso de obviedade, senti-me só como nunca antes. Eu era a única peça que quebrava a sintaxe da multidão. Nada ali estava diferente, mas parecia que tudo havia mudado. Eu pedia os meses atrás, sentia frio e saudade. Depois de algum tempo, permiti-me prosseguir. Eu precisava convencer-me de que o teu rosto não ia aparecer para mim, e mesmo que o fizesse, nada iria quebrar o dilúvio de acontecimentos que trouxeram-me para longe de ti. Na sua pele e na minha, está eternizado, gravado a tinta e sentimento, o infinito de nós dois.
-
"Por mais que eu cante, escreva, toque não vai dar... você não vai mudar." 
-
Fiz as malas, faz algumas semanas, e sentei-me em algum lugar qualquer.
Cá estou. A mercê de algum destino que cruze o meu, algo que tire da minha boca, o gosto amargo da sua ausência. Alguns olhares roubaram-me a atenção, e eu confesso que a vida sem você tornou-se mais leve e mais fácil de viver. Nestes meses sem a sua presença, percebi toda a saúde que estava escapando-me por entre os dedos, de tanto tentar consertar-lhe os erros e bebe-los em um gole só. Dói mesmo, a acepção que me orienta a uma conclusão óbvia. Eu sinto falta do que nunca existiu, ou do que apenas por vezes, existiu. 
Apaixonei-me pela imagem que você criou e depois, pouco a pouco, ousou destruir. Tentei juntar as peças, de maneira ignorante, sem saber que não havia conteúdo. Eu só não queria acreditar neste vazio, neste frio depresso que escondia-se por detrás da armadura que você vestiu. Então, eu desisti. 

Em alguma destas últimas noites, eu sonhei com você. E confesso que em sonho, não sei discernir quem me aparece, se é realidade ou idealização. Em sonho você reaparecia e anunciava outro adeus. Eu os coleciono. Sua mão acenava vestida de aliança, aquela mesma dos trezentos e noventa e seis dias atrás. Tudo era silêncio. E
u somei um sorriso. Admirei-a por alguns poucos segundos, e então dei-me conta de que éramos ali, naquela soma, conjunto e operação, 
um espelho da nossa extraordinária pequenez.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

#Guria

Em um jazz insólito eu poetizo o certo, os acordes errados, o que morre lentamente e o que ainda ousa viver dentro de mim. Pois sim, ainda morrem algumas partes de mim, quando eu ouço notícias das suas últimas lágrimas. Em outros dias, algum tempo atrás, eu não escolheria estas palavras para traduzir um coração em paz, fascinado com a capacidade de encontrar beleza em tantos lugares. Eu me apaixono todos os dias por mil e um sorrisos, e ah, aquele novo olhar. É a vida que antes passava despercebida pelos meus olhos cansados de enxergar.
Sentir é arte, transcrever é poesia, e eu ousei capitular cada fração de sentimento dos últimos anos. Eu degusto a saudade sem pressa, como um Whisky doze anos, uma lembrança esquecida que vale a pena reviver. Não dói mais.
É no desencontro que eu me acho. Não sei viver a meio-fio, a uma distância segura do tudo ou nada. Acelero os dias, apresso a vida, tenho sede. Quero fugir com destino a lugar nenhum. Minha instabilidade é constante pois a monotonia é ébria do rastro vazio e sem cor que você deixou. Existe um abismo agigantado entre meu pensar e o meu sentir. São extremos apartados, divergentes em conteúdo e significado. Existem hiatos de tempo que invadem meus dias sem permissão. Eles distraem e traem minha atenção.
Então eu paro, por alguns poucos minutos, e o coração se entrega à beleza perfumada, ainda deste mesmo jazz insólito. Arroga-se a mais uma outra história de amor, que nem ao menos é sua, e assim dança, canta, sorri e chora em conjunto com harmonia bipolar desta melodia orquestrada.

-

"Oh, Sophia, eu encontrei alguém melhor do que você..." -¡Adiós, Sophia!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

#Dezoito

Todo veneno foi expelido. Suas más intenções disfarçadas não mais podem causar dor, pois a partir desta data, o novo é antídoto contra todo o mal que você já me fez. O novo é expectorante. O tempo foi desgastando e descolando do seu rosto, os pedaços da porcelana que compunham de forma rudimentar, a máscara que te escondia dos meus olhos.
Inicia-se seis de agosto, com quarenta e cinco minutos passados, e desde o primeiro segundo eu experimentei a paz. Eu selei o luto de tudo o que um dia eu ousei sentir por você, quando memorizei a última lágrima que eu me permiti derramar por este amor doente. É esquizofrenia pensar que você, em algum momento, aprendeu a amar.
Estas também são as últimas palavras minhas que farão referência a ti. A partir do dia de hoje, eu te fecho, eu te encerro e te tranco em um passado sem volta, no infinito pérfido de nós dois. Não mais compartilho este frio depresso, tão presente em lugares ermos como o seu coração. Eu não virei a página, eu fechei o livro. Aqui eu denoto o meu próprio cemitério das boas-intenções. 
Cansei de apesar dos pesares te pedir perto. Cansei de apesar dos pesares estar ao seu lado sem reciprocidade. Cansei de apesar dos pesares passar por cima de todos os seus erros e desejar-lhe o melhor, pois foram por estes apesar dos pesares que eu te descobria e não queria acreditar. Ofereci todas as chances para que eu não precisasse crer nesta carência de verdade que existe em você, porém, depois de tantos convites refutados, não restou-me outra opção senão aceitar que isto que o espelho mostra, é sua identidade efetiva. E ao posicionar-me ao seu lado, em um devaneio que clamava por contradição, percebi que eu sou bem melhor sem você. Sua presença não constava, tampouco acrescentava, e eu entendi que a palavra que é capaz de te descrever com maior precisão é ausência.
Inicia-se seis de agosto, e agora os números estão por volta de quase duas horas passadas. Expulsei seu fantasma e apelidei a cura de Os Dezoito.

"As boas novas do passado, são velhas novidades que eu já não quero escutar." - Esteban

sábado, 4 de agosto de 2012

#Agosto

Vejo tantos copos cheios e pessoas vazias. Eu procuro em inúmeros rostos, um espelho seu. A noite cai e eu ouso respirar a vida longe de você outra vez. Estou criando uma certa sobrevida diante de todas as nossas lembranças, porém ouvir aquela música tocar flanando pelas mesas do bar, em meio a uma madrugada boêmia qualquer de agosto, é como embriagar-se de saudade em um gole só. Perdi a lucidez por aqueles três, talvez quase quatro minutos.
Eu consegui sentir um gosto seu. E dói admitir o quanto eu queria poder olhar nos teus olhos, por alguns poucos segundos, como quem compreende sua mudez e retribui calada: Eu também. Como vai a vida sem mim, como vai você que me esqueceu? Eu sinto o sangue fluir nas veias, mas não aquecer o coração. Nós somos tão jovens, tão jovens - por que tens tanto medo de viver?
Foi uma pausa, uma faísca de você que ousou acender-se e desorganizar meus pensamentos. Desviou - mesmo que por aqueles três, talvez quase quatro minutos - a minha atenção. E eu te resguardei em silêncio no meu coração. Em meio a tantos sorrisos e vidas atravessando a minha, eu parei o tempo e permiti-me sentir você. Por uma fração de segundo, nas horas madrugadas de ontem, eu lhe pertenci. Uma solidão a doisPassou.
Não mais.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

#Amparo

É como escutar uma canção antiga, sentir a nostalgia de um passado distante. A sensibilidade das tuas palavras trouxeram-me lembranças confortáveis, olhares cautelosos que têm medo de revelar demais. Eu senti sua falta. Percebi.
O quanto você disse em entrelinhas que eu resguardei. Por detrás do sorriso, seus olhos mostravam-me claramente, a história viveu em nós dois. Eu te senti perto, como nos primeiros dias. É estranho reviver um amor e ao mesmo tempo, sofrer por outro. Senti o paradoxo entre prosseguir e voltar atrás.
Os pensamentos invadiram sem pedir licença. A verdade é que imaginei uma vida ao seu lado outra vez. Não me leve a mal, não estou passando por cima do espaço que a vida colocou entre nós; Foi só um devaneio perdido, por um coração que está cansado de sofrer por quem desistiu de lutar.
Você sempre trouxe conforto, e os outros, nem tanto. Trouxeram a sede, a vontade, a obsessão e os meus delírios mais profundos. Você era calmaria e toda aquela minha paz que há muito tempo eu não consigo encontrar.

#Renúncia II

A blasfêmia contra o amor, é responsável pela tristeza que carrega no olhar, por esta sua covarde vontade de fugir e anunciar sutilmente um adeus mudo, só para perceber se alguém vai lhe pedir para ficar.
Não mais.
A etimologia de nós deriva de um amor esquizofrênico entre um eu e um você que não mais falam a mesma língua. As prioridades divergem, e eu não sei mais lidar com a sua presença, com esta distância calculada que nos coloca a meio-fio de uma saudade constante.
Eu costumava completar as tuas frases e o seu coração, hoje eu não sei mais o que mora em você. Eu viro madrugadas tentando evitar os pensamentos que assombram e insistem relembrar como foi que eu cheguei aqui.
Não importam-me mais os vácuos de vaga definição que possuí o tempo, se ele cura, se ele passa, se ele corre, ou se ao menos existe. Pois às vezes eu ainda te procuro nos cantos, mesmo sabendo que não vou encontrar. Às vezes eu até te espero, mesmo sabendo que não vai voltar.
Boa Sorte.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

#Poesia

Escrever para curar a alma, um coração deixado para trás. Poetizar as dores, exorcizar os rancores, sentir a ressaca de tudo o que me tira a paz. É hora de sentir. Deixar vir. A verdade é que eu desperto todos os dias sem vontade de mudar a realidade que a sua ausência me impôs.
As noites caem e eu procuro qualquer quarto escuro para me esconder. Não quero ver a lua e as estrelas que um dia você me deu. Foi uma madrugada qualquer de Janeiro. O litoral, o som das ondas do mar.
São lembranças que não se cansam de me assombrar. 
Hoje os dias são só o caos de uma cidade programada para não parar. São alguns milhares de pessoas que passam despercebidas pelos meus olhos cansados de enxergar. Em todo canto, uma música vinda de algum lugar.
São versos jogados que não se cansam de me assombrar. 
O seu retrato está guardado, e eu não ouso desenterrar. De que adianta? A cada passo, em cada esquina tem um rastro para fazer lembrar. Foram tantas promessas, segredos ao pé do ouvido, um arrepio gelado que me faz parar.

sábado, 28 de julho de 2012

#Partida

Deixa ir. Deixe-se ir. Nós percebemos que algo está errado quando começamos a querer morar no passado. Nostalgia é conforto e ao mesmo tempo, embriaguez. Beber saudade em doses excessivas, cega os olhos de quem não quer ver. Ressaca. Eu começo a idealizar, poetizar, a prender você nas paredes do meu quarto.
Deixa ir. Deixe-se ir. Tudo o que é verdadeiro permanece. O tempo é o maior filtro de amor sincero e amor errado. Não sei discernir qual é o certo, mas pela frieza de uma análise calculista, é possível identificar desde o início um amor doente.
Hoje é carinho, as lembranças e o resto é nada mais.
Então eu deixo ir, sem a culpa de atestar a desistência. Eu aprendi naquele exato momento que trair é sinônimo de não saber amar. E eu deixo entrar quem se interessar por este coração.
Hoje sou eu, as palavras e
o resto é nada mais. 
O mesmo inverno que trouxe, levou. E eu rascunhei em minha memória todas as datas especiais. Isso é tudo o que eu quero guardar. Deixei ir. Deixei-me partir.
Voou.

sábado, 21 de julho de 2012

#Escolha (parte II)

Quase três da madrugada, completamente anestesiada pela apatia de um inverno rigoroso. O som é silêncio mixado com jazz, r&b e soul. Os pensamentos, você. O sentimento, vazio. A calmaria das primeiras horas do dia mostra-se sempre o melhor momento para a desordem das minhas palavras.
Perco-me em músicas que traduzem corações. Desde letra à melodia, das agudas do teclado aos graves do baixo. Desde rimas até refrões, eu me perco em versos que chamam seu nome. Eu constantemente traio meu orgulho nos momentos de desatenção. Percebo-me aqui, poetizando você. Nos segundos antes de adormecer, um bombardeio de lembranças, uma dose de realidade.
As paredes que me cercam guardam lágrimas decrescentes de uma saudade que escorre pelos olhos. Guardam os acordes de um violão cansado de respirar você. O tempo expira certeza e eu não sei mais lidar com todo esse ao redor que você criou para tirar minha paz. As negativas hoje prescrevem receitas com fármacos impossíveis de encontrar.
O vício por mais faz paradoxo com o luto de sentir. São vontades opostas que tornam difícil discernir o que fazer a seguir. A inconstância do agora nos faz querer agarrar com as duas mãos tudo o que já passou. Não nos é cabível a consciência de eternizar o tempo, pois ele corre disparado sem ao menos pedir licença. Mas eu sei, e você - apesar de negar - sabe também. Somos livres para fazermos nossas escolhas, mas seremos sempre prisioneiros das consequências. 
Quase quatro da madrugada, e uma voz pergunta calada aonde está você. Talvez um dia eu soube, talvez um dia eu saiba, talvez eu nunca cheguei a saber. Nestes hiatos de tempo entre a construção de um parágrafo e outro, eu desvirtuo pensamentos em diversos rumos que dão origem às próximas frases. Por vezes tento fidelizar minhas palavras ao coração, em outras apenas aprecio a mudez das minhas reflexões. Sinto-me curiosamente diferente a cada novo texto redigido. Você está se tornando uma realidade cada vez mais distante, mais difícil de enxergar. Não é cura, mas é alívio. E talvez, a verdade que dói pronunciar, é que eu nem espero mais um sinal teu. 

"O tempo não para, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo." - Mário Quintana

quinta-feira, 19 de julho de 2012

#Toque

Eu fecho os olhos. Em alguns poucos segundos, consigo imaginar-me deitada ao seu lado, admirando com precisão os detalhes do seu rosto. Eu sinto que posso tocar, mas não consigo. Eu lembro da textura da pele, da intensidade do olhar, de cada mínima curva que fornece harmonia ao conjunto que compõe você. De olhos ainda fechados eu escuto uma canção, aquela mesma que já trouxe paz aos nossos corações. Em uma folha de papel, eu sei que poderia desenhar teu corpo, todos os seus contornos. Eu aprendi a amar de forma desmedida, cada mínima parte que te transforma no melhor que eu posso enxergar.
O seu sorriso me traz a paz, a sensação de que todos os lugares do mundo não fariam-me sentir tão em casa, quanto estar ali, ao seu lado. Suas palavras, são meias palavras. Nada dizem sobre as maravilhas que escondem-se dentro de você. A sua voz é difícil de ouvir, mas quando a escuto, ela diz meu nome.
Eu queria tanto tocar, mas não consigo. As lembranças não são táteis, e por mais que eu tente enganar meus sentidos, você não está aqui. Esta é a verdade que cai pesada sobre os meus ombros, e infelizmente eu posso sentir, posso tocar. É real. Eu lembro das tuas frases, não foi minha melhor sexta-feira. Saí da sua vista sentindo como se uma faca atravessando o coração não fosse capaz de machucar tanto quanto as tuas palavras daquela tarde. Era um lindo pôr-do-sol. Mas havia um frio, atípico, fora de estação.
Eu te encontro em sonhos todas as noites - quase um acordo entre razão e amor. É uma recompensa barata a um coração cansado, que pulsa contra vontade, só para sentir-se mais perto de você quando for a hora de fechar os olhos outra vez. Ele ama, com a mais pura simplicidade de amar. Ele queria tanto tocar, mas não consegue. É um desejo frustrado, um pedido sem endereço, pois não há nada a se fazer.
Às vezes leva-se uma vida inteira para que possamos encontrar um grande amor. Muitas vezes acontecem os desencontros, e desvios de caminho. No entanto, outras poucas vezes, ele nos escapa por entre os dedos, sem que possamos ao menos, dizer adeus. São raras as vezes que um grande amor foge de seu destino, e ainda assim, quando o faz, os danos são muitos e os preços são altos. Eu quero sonhos infinitos, eu quero um alguém que não tenha medo de sonhar, bem aqui, ao meu lado. Eu quero um alguém que não tenha medo de me amar. Alguém que não vá, mesmo quando o mundo lhe pedir para não ficar. Eu quero um alguém para quem eu possa cantar, todas as noites, sobre como é bom poder amar.
Quem dera poder tocar. 

domingo, 15 de julho de 2012

#Overdose

É tão amargo o gosto do vazio, aquele de uma vida sem amor. A realidade sóbria parece embriagar de tédio toda a ternura de viver. Eu tenho amadurecido alguns pensamentos, mas estes ainda são crus de explicações. O subjetivo sempre foi meu melhor defeito. Talvez eu só sinta demais, pense demais, ame demais.
Os excessos são risco de vida, e eu os bebo em um gole só. Sinto falta dos prazeres proibidos, da fração de segundo que tínhamos para não apenas somar, mas sim, multiplicar amor. Era muito sem graça e sem cor, a monotonia da normalidade. Dividir o tempo ao seu lado, era como embebedar-me das tuas doses sem qualquer preocupação com os efeitos colaterais. Na ausência, as lembranças e as memórias ecoavam em meus pensamentos como bombas de endorfina para alívio imediato. Amar é sede de viver, de sentir, de querer. 
Hoje, todos os efeitos são reversos, pois eles apagam do rosto um sorriso parvo, sem muito conteúdo a oferecer. Hoje, todos os batimentos de um coração cansado são ébrios de saudade, perturbados pela perversa ironia das datas atuais, aniversariantes pelos trezentos e sessenta e cinco dias que rascunharam nossa história.

Nota: Sobredosedose excessiva ou overdose são termos utilizados cientificamente para denominar a exposição do organismo a grandes doses de uma substância química, seja ela um medicamento, uma droga ou outros. Popularmente, refere-se à exposição a doses excessivas de uma droga, ocorrendo ou não a intoxicação, isto é, havendo ou não sinais e sintomas clínicos que debilitam o organismo, provocando a falência de órgãos vitais como coração e pulmões, podendo levar à morte, sendo uma das suas principais causas entre dependentes químicos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

#Infinito

Eu me perdi, como quem anda com uma venda nos olhos, e não ousa admitir. Deixei para trás, em algum lugar de um caminho tortuoso, o meu sorriso, o brilho do olhar, as noites e madrugadas que um dia trouxeram felicidades, e não lágrimas de decepção. É como olhar-se no espelho e não mais reconhecer a imagem refletida. Percebo-me em febril estado de anomia. Morrer não dói, mas deixar-se morrer é sensação de asfixia permanente. Hoje, eu quero falar só de mim.
Sou eu que tentei transformar suas mentiras em verdades. Tentei traduzi-las em versões apáticas capazes de ocultar as partes estragadas. Sou eu que deixei tudo para trás, inclusive os que tentaram me alertar; Caminhei em constante contra-mão, pois os seus interesses não mais convergiam com os meus. E por fim, como um último lapso de consciência, sou eu quem perdeu o valor.
Tentei ser mais e observei-me sendo cada vez menos. Desmontei-me lentamente, entre os meses que se arrastaram e levaram para longe a minha paz. Tentei provar aos seus, ao meus, aos olhos do mundo que nós éramos maiores, capazes de contemplar juntos a imensidão do céu e ali adormecer, sem hora marcada para acordar, pois tudo o que importava era ouvir sua voz cansada ao final de cada dia, sentir o contato do corpo em cada abraço, cada beijo esperado. O seu amor era o meu infinito particular, imutável, irrevogável, intransferível. Aparentemente você não compartilha estes pensamentos, pelo menos, não mais. Acrescentava vírgulas, parênteses e contradições em todas as minhas propostas e soluções para um final feliz ao meu lado (Você não quer mudar).
Eu acordava todos os dias sem esperar por renovação, e sim, por qualquer sinal teu. Em algum momento de um passado disforme você mudou e eu não quis perceber. Afoguei-me em tentativas frustradas de te fazer entender que ao importar-se demasiadamente com a opinião dos outros, você se tornaria eternamente um prisioneiro de suas vontades. Não há felicidade sem amor, assim como não há amor sem felicidade. Construí um grande cenário paralelo, desprovido de elos vinculados à realidade, pois olhos vendados não enxergam. Esbocei um sorriso pintado que foi pouco a pouco escorrendo pelos cantos do rosto, quando as lágrimas resultantes da efemeridade de um amor doente começaram a aparecer. Deixei-me guiar por memórias e lembranças, por uma coragem que em você, não existia mais.
Não sei dizer de que parte de mim vem a autoria destas palavras. Acumulei todo o peso da verdade que eu não ousava pronunciar. Tudo em que eu acreditava ruiu-se, pois residia nas mais sinceras batidas do meu coração por você. Um som que te agradava. Eu negligenciei as opiniões sensatas e os fatos concretos que cresciam cada vez mais construindo paredes entre nós. Eu só queria acreditar que eu ainda era importante para você. Hoje, eu só peço pra ouvir que algum dia fui, pois carrego comigo uma voz que não se cansa de repetir as mesmas frágeis palavras, todos os dias, pelos meus últimos seis meses de vida. É uma verdade que ecoa, para na garganta e escorre gelada, não ousa ser pronunciada; É aquela que suplica por redenção, por detrás dos meus olhos cansados de ignorá-la.
Se o amor fosse recíproco, se eu realmente importasse, nós não estaríamos aqui contando regressivamente os segundos para um adeus mudo. A soma de nós dois, seria um. O mundo teria de nos engolir, pois estaríamos ali, unidos pela pureza mais bela de um amor sincero.
Sim, é verdade, eu desisti. Não de amar, não de te amar. Desisti de tentar ainda ser importante para você, como talvez um dia eu tenha sido - não sei dizer. A partir de hoje, pouco importam-me os teus segredos de madrugadas, as suas histórias mal contadas, pois eu não faço mais parte delas. Cansei de olhar para um reflexo cada vez mais vazio de mim, cada vez mais pálido de felicidade. Faz muito tempo que estar ao seu lado não mais significa presença, pois sinto-me a sós. Eu falo, mas não existe voz. Te olho, mas não te enxergo. Entre nós predomina o frio fora de estação, o silêncio de olhares que não mais se encontram. Portanto, eu só lhe peço por favor, que não digas outra vez que o seu medo de prosseguir em nada se relaciona com o tamanho do seu sentimento. Vamos parar de aderir a ignorância, ao alívio superficial que ela nos dá.
Só saiba, meu amor: O pouco que nós temos transforma-se em tudo quando se vai. Se realmente quisesse estar ao meu lado, o horizonte seria infinito, as possibilidades não caberiam em uma folha de papel e o seu olhar seria para sempre, um retrato de todos os dias. Eu te dei todas as chances, você as recusou. É hora de partir. Não há mais nada que eu possa fazer, senão buscar minha felicidade em algum outro lugar, junto de algum outro alguém que se orgulhe de olhar para mim e dizer claramente que do meu lado não sairá.

"E é por isso, minha linda, que eu não sei lidar
É muito mais do que meu peito pode suportar
Não quero sonhos com hora marcada pra acabar
Prefiro essas histórias imperfeitas pra contar
Quem sabe há alguém
Vai me ouvir
E me trazer a paz
Será que há alguém
Por aí?" -
O Sonho De Um Visconde

segunda-feira, 9 de julho de 2012

#Ar

Amanheceu dia nove de julho de dois mil e doze, com a mesma manhã ensolarada - e traiçoeira - dos trezentos e sessenta e cinco dias atrás. Os números estão por volta de oito mil setecentas e sessenta e seis horas passadas. Neste momento, era recém-nascida o rascunho da nossa história.
Eu a escrevi com minha melhor caligrafia. Foram três páginas produzidas na madrugada anterior; Busquei traduzir fielmente tudo o que passava-se no roteiro da minha vida sob a sua direção, naqueles meses em que você invadiu meus dias, sem pedir licença.
Eu tinha o gosto do seu beijo nos lábios e o coração nas mãos. Nunca poderia ter imaginado que eu estaria ali. Nunca poderia imaginar que hoje, eu estaria aqui. Eu não ousei relembrar promessas, mas o teu sorriso, é inevitável. Ele me assombra sem permissão, sem fazer esforço algum. São noites mal-dormidas, dias vazios e uma enchente de saudade que clama, que pede para ouvir sua voz cansada.
Eram inocentes, os meus olhos e os teus. Éramos dois, mas a soma deu um. Não sei se lhe acomete, mesmo que aos pormenores, as lembranças que transcorreram os últimos doze meses de nossas vidas. Percorri o infinito para ser o melhor que podíamos, mas eu me perdi. Assim, nas tuas palavras, nas tuas promessas, no óbito atestado pelo seu amor.
Às vezes te olho menina, às vezes te olho mulher. Tão frágil aquele olhar de quem pede redenção. Tão forte o sorriso sonso, pintado por detrás da armadura que te esconde do mundo, te esconde de mim. Esta é só mais uma, ou talvez a última página, das quatrocentas que compõe a obra por nós planejada, com este mesmo nome. Tem capa, folha de rosto, sumário, introdução, um conteúdo em construção, e por fim, epílogo.
Só faltou você. 
Hoje eu percebo, nós fomos metades mal-dividas que encaixam-se melhor do que todo o resto. Somos par, somos ímpar. A inconstância é o nosso defeito mais bonito. Corações incompreendidos, não mais convergentes, pois não falamos mais a mesma língua. Nos quinhentos e vinte e cinco mil novecentos e sessenta minutos que sucederam o teu sim, restam agora, para nós, apenas sinais.

"Hoje, acordei sem você

E eu só percebi, quando eu senti falta de mim.
Pois existem coisas que eu queria mais
E tantas coisas pra deixar pra trás
Eu queria tanto te ouvir dizer agora,
Então diga."

domingo, 8 de julho de 2012

#Tese

Amo quem ama sem medo de amar, sem medo de existir. Quem tem o ímpeto de querer, de fazer, de viver. Quem acredita sem pormenores, sem adjacências, que todas as razões da nossa existência resumem-se a amar.
Eu busco a fonte do amor eterno, um remédio líquido para as dores da alma, pois percebo que não há nada neste mundo que possa ser equiparado ao amor. Apenas este, em sua mais pura fora, é capaz de ser tão rico e tão simples simultaneamente.
O amor é o único sentimento capaz de sustentar-se ao tempo, mostrar-se durável, intacto e indestrutível. É a única bondade presente neste mundo e dele derivam-se outras tantas benevolências, como a amizade, o companheirismo, o perdão. Não sabe amar aquele que não é capaz de perdoar, pois também do amor, deriva-se a compaixão. Os defeitos e imperfeições fazem parte de nossa natureza, e é através do amor que podemos curar e trazer para perto, a felicidade.

"Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho." - Tom Jobim

O amor verdadeiro é o antídoto contra todas as maldades presentes em frágeis corações. Nem a morte e as múltiplas dores de uma separação, são capazes de afogar a intensidade de emoções que compõe o prisma multifacetado que é o amor. Ele será sempre maior, digno e incondicional. Todo amor é igual. Todo tipo de amor é válido, e por consequência, deve ser respeitado, reconhecido, apreciado e estimado por seu devido valor. O amor é o que vale a pena em nossas vidas. É por este sentimento que construímos sonhos, vínculos pessoais e criamos nossa felicidade. É por este sentimento que aprendemos a realmente, viver.

"Embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu." - Luís Fernando Veríssimo

O amor é o termômetro que nos torna capaz de discernir o certo e o errado. Capaz de curar raiva, depressão, saudade, solidão e até mesmo, a mais oposta das emoções, o ódio. Por algumas breves e vagas definições posso dizer que raiva é um sentimento barato, completamente descartável. Mata a sede por poucos segundos, antes de esvair-se e deixar a sós com o peso da culpa, sua vítima. A depressão é anomia. É a ausência de amor-próprio em conjunto com os demais. A saudade, é a nostalgia do que não está mais presente em nossa realidade. Somos tendenciosos a sentir saudade de tudo que amamos, e por alguma razão, não possuímos mais. A solidão geralmente ocasiona-se por todos aqueles que têm medo de amar. Afastam, consciente ou inconscientemente, todos os que tentam aprofundar relações. Então por último, e talvez, o pior dos inimigos, está o ódio, a ira - pois trazem consigo o rancor, a mágoa. Para este, é passível dizer que suas vítimas estão presas, contidas em barreiras que não vos permitem seguir seus caminhos.

"Amar, porque nada melhor para saúde, do que um amor correspondido." - Vinícius de Moraes

A força do amor move o mundo. Sem ele a vida é cinza, desprovida de cor ou significado. O gosto do amor é infinito, seu perfume, aquele da pessoa amada. Não há sinônimos para amar. Não há palavras que possam descrevê-lo fielmente. Não há quem possa entender todas estas minhas proposições, se nunca o provou. Tenho pena dos que não amam, mas mais ainda, dos que recusam-se a amar, pois quem ama verdadeiramente, descobre o propósito de viver. E morre assim, feliz, cercado de prazer.

"Tão bom morrer de amor, e continuar vivendo." - Mário Quintana

sábado, 23 de junho de 2012

#Acepção

Acordo sem vontade de escrever, faz algum tempo. Acabo por capitular os sentimentos, guardá-los e depois não ter onde colocá-los. Não suporto a ideia de publicar textos fora de ordem. Todos eles, sem exceção, são urgência, necessidade. Procrastinar, deixá-los para depois, é atestar o óbito das minhas palavras. Depois não serve mais. 
Existem alguns textos que eu escrevo e os guardo. A urgência do momento se desintegra com o tempo, se desencontra. De repente, por alguma razão, ao tentar publicá-los outra vez, percebo que não há mais espaço para aquelas palavras gastas. Expressaram, não expressam mais. 
Ontem, as mesmas frases que traduziam um coração, hoje são apenas mais alguns rascunhos esquecidos que não entraram para a história, perderam-se entre dias atropelados. Juntam-se com tantos outros deslocados - cinquenta e três, para ser mais exata - sem motivos para exposição. Perderam o sentido, serão para sempre textos enterrados, sem ordem cronológica ou razão para reler.
O sentimento muda, a realidade muda. O tempo não pára. Olho para trás e observo a efemeridade, a volatilidade capaz de levar a tudo e a nada, o nosso humor.
Acordo sem vontade de escrever, faz algum tempo. As palavras sempre foram grandes aliadas, gosto de usá-las, gastá-las, cuspi-las em uma folha em branco, mesmo que na desordem, com a finalidade de expressar toda esta vida, estes pensamentos e sentimentos que correm pelas minhas veias sem pedir licença.
A impulsividade, o lirismo apaixonado, as hipérboles sempre foram meus maiores adjetivos. Existem inúmeras vertentes que convergem, divergem, que direcionam as condutas; Porém, para mim só existem duas principais:
O amor e todo o resto.

"Eu perdi as palavras. Na verdade, estou repleto delas. Não tenho é coragem pra falar." - Esteban Tavares

domingo, 17 de junho de 2012

#Hipocrisia

Eu não faço questão, nem aos pormenores, de adaptar-me a uma sociedade completamente doente. Escrevo com a mais sincera lástima ao dizer que os valores agregados e percebidos são cada vez mais hipócritas e complacentes com a realidade que nos encontramos. Moral, ciência, política, religião, amor. São inúmeras informações divergentes que visam definir qual a conduta e a postura coerente que nós indivíduos, devemos adotar perante a sociedade. A verdade é simples, é lógica e está explícita ao nosso redor, em todos os cantos do mundo: Doente não somos nós que não atendemos aos requisitos impostos desde que nascemos para sermos aceitos. Doente, é o pseudo-discurso de igualdade que ouvimos todos os dias, enquanto a ignorância e a sanção social exercida por fanáticos religiosos, racistas, homofóbicos e outros tipos de intolerantes, coexistem sobre os que recusam submeter-se as suas ideologias, ditaduras e crenças unilaterais. Dia-pós-dia, por debaixo dos palanques que abrigam tais discursos, os palestrantes (geralmente figuras públicas e/ou políticos) em grande parte das vezes, estão apenas defendendo seus próprios interesses egoístas e ambiciosos.
Menosprezo também a perfídia, a hipocrisia das mentes adeptas à concepção de normalidade em relação aos absurdos que cercam nosso cotidiano. O horror transcrito nas manchetes de jornais, programas televisivos, notícias de rádio; Tornou-se comum lermos, vermos e ouvirmos toda a barbárie que o ser humano é capaz de cometer nas ruas, instituições de ensino, lugares públicos, estabelecimentos e principalmente, dentro de casa. Corrupção, desigualdade, miséria, ignorância, genocídio, homicídios, terrorismo; Aprendemos a lidar e aceitar com abrupta naturalidade todos estes "cânceres" da sociedade. É lamentável admitir que a lei do mínimo esforço impera majoritariamente na consciência coletiva dos indivíduos. Poucas são as exceções que buscam de maneira efetiva, alterar os parâmetros equivocados que nos precedem e possuem poder coercitivo a cada nova geração. Percebo que aos olhos da ignorância, abominável e incomum não é a fome, a pobreza, os crimes, o vandalismo. Todos estes fatores são rotineiros, indignos de atenção. Para a cegueira dos intolerantes, os absurdos estão presentes nas diferenças étnicas, no amor entre pessoas do mesmo sexo, na devoção à algum outro Deus que não lhes agrade. É vergonhoso notar evidentes defeitos humanos, que ainda existem após séculos e milênios de evolução: A arrogância, a prepotência, o egocentrismo e a mania petulante que temos ao pensar que nossos valores são superiores aos dos outros, e não obstante, ainda sermos egoístas o suficiente para acharmos que o mundo é apenas nosso, e desta forma, impor nossas verdades vazias e desprovidas de real significado sobre o outro, sem reconhecer que todos nós temos direito de escolha e opinião. As disparidades, a heterogeneidade das partes e a diferenças criadas são exatamente o que move o mundo sentido à evolução, ao aprendizado. Enquanto disseminarmos a hipócrita conduta regrada por ditaduras que não nos permitem questionamentos, enquanto criarmos em nós mesmos falsas imagens de defensores da igualdade, mas em simultâneo não permitirmos que nossos filhos tenham sua própria orientação sexual, que nossos vizinhos tenham outro Deus, que nossa família integre membros de diversas culturas, nós seremos eternamente presos à elos que não nos deixam guiar até à harmonia, à compreensão, à aceitação, ao amor sincero capaz de transformar-nos no melhor que podemos ser.

sábado, 16 de junho de 2012

#Excesso

Perco meus pensamentos em inúmeras informações que pouco importam. Existem todos os tipos de fala ao meu redor, e a maioria delas incomoda. Existem pessoas que falam o que pensam, aquelas que pensam no que falam, e aquelas que falam sem pensar. Destas todas, poucas despertam-me interesse. Aprecio o incomum, os detalhes despercebidos.
O silêncio dos teus olhos, é o seu maior discurso. É um monólogo sem pausas, o momento em que tudo o que esconde-se dentro de você, se entrega da mais sincera maneira para mim. Perco-me na profundidade do seu olhar e sinto-me mais perto do seu coração. É confortável te ouvir dizer tanto, sem usar palavra alguma. Eu aprendi a interpretar teus sinais, mas confesso ainda ser ignorante de você.
O amor é um espectro de cores e significados, um prisma multifacetado que não nos permite definição. E eu procuro, por alguma razão, entender o que transcende em cada um de nós, quando sentimos que o amor - em sua mais pura forma - é capaz de nos fazer mudar, nos transformar no melhor que podemos ser, em troca apenas de um sorriso sincero vindo do outro coração.
Quando o meu está junto ao seu, somos maiores. Fazemos parte de um universo paralelo, uma dimensão inalcançável para os infortunados que não sabem amar assim, como nós. Somos exceção à regra, metades mal-dividas que encaixam-se melhor do que todo o resto. Somos par, somos ímpar; O que quisermos ser. 
Eu te procuro nos cantos, nas lembranças, nos momentos a sós. Qualquer inconstância que preencha o vazio dos meus dias quando estou sem você. Culpo sem nenhum pesar, esta vontade insaciável de beber tuas doses, de pedir o seu toque ao menos, mais uma vez.
Se amar aos excessos for crime inafiançável, saiba que sou egoísta demais para hesitar ou revogar ao que dá cor e forma às minhas vontades e felicidades. Poetizo as noites, as dores, os gostos. Sou inconstante, sou tudo, sou nada. Sou só o som das batidas de um coração que te agrada, uma voz que chama pelo teu nome todos os dias e noites; Um mártir da sua existência.

"Como é estranha a natureza 
morta, dos que não tem dor.
Como é estéril a certeza, 
de quem vive sem amor..." - Cazuza

sábado, 2 de junho de 2012

#Dezesseis

Percebo-me constantemente fazendo música das minhas palavras. As projeto em um futuro desconhecido, para ouvintes desconhecidos, que compartilhem as mesmas dores e alegrias vividas. São palavras doídas que traduzem o pesar escondido dentro de mim, desde que senti o seu gosto pela última vez. Cansei.
Aprendi que eu nunca soube valorizar o amor da devida maneira, sempre hipostasiei suas qualidades, ao passo que cegava-me para seus defeitos. O amor é um espectro de cores e significados, e eu só enxergava os que convinham com o meu hiperbólico lirismo apaixonado.
Sempre amei sem perguntar, sem pedir licença, sem pedir perdão. Afinal, a vida nos foi entregue para que vivêssemos sem colocar os medos na frente dos nossos sonhos. Porém, nem mais os sonhos fazem com que eu escape das celas frias da realidade. Assim como tudo ao meu redor, eles me guiam todas as noites até você. Lamento apenas, eu ter esquecido de um tipo de amor fundamental. O amor próprio. Este amor, em conjunto com os demais, compõe a simetria entre um eu e um você, completamente vinculados à elos que não nos permitem dizer adeus. 
Por muitas horas espero por palavras que você pode nunca dizer. Espero por pedidos que você pode nunca fazer, e espero com o coração aberto de tanto sofrer - aberto só para você. Não deixo ninguém mais entrar, muito menos que ousem tirar qualquer coisa do lugar, pois quero admirar tudo a minha volta exatamente como você deixou.
Nas horas restantes, forço-me a lembrar de todas as mentiras que você ousou contar com finalidades desconhecidas, provocando cicatrizes escondidas, e não teve coragem de desculpar-se para curar um alguém que só te quis bem, que só quis enxergar seu melhor, mesmo quando tudo o que você mostrava de ruim, estava explícito em sua voz.
Pode retirar sua máscara e as suas intenções destiladas, eu enxergo a verdade em teus olhos descobertos, em cada sílaba da sua voz falha. Hoje eu percebo, a culpa não é minha.
Nunca foi.

terça-feira, 29 de maio de 2012

#Esquizofrenia

"Eu não conseguiria dar um passo sem você."

Ainda consigo te ouvir respirar esta frase. Ainda consigo lembrar da felicidade que senti ao identificar cada sílaba e significado. Não quero mais adormecer, muito menos acordar. Você, em conjunto com a nossa situação, tornou-se uma constante em cada um dos meus pensamentos. Te procuro nos cantos de uma vida vazia sem a sua presença. Você diz que se perdeu ao meu lado, e eu me perdi sem você. Você pode partir, e eu, o que posso fazer?
Partiu. Voou. Diz que não quer mais saber, que não vai mais voltar.
"Vai pedir para esquecer, vai rezar para esquecer, mas eu não vou deixar."
Desde que os teus olhos pararam de me procurar, as noites aqui são todas iguais. Sempre há um acústico, qualquer som melancólico de um violão cansado de chamar pelo seu nome. Teus sinais são voláteis, inconstantes, inesperados. Brinca de aparecer quando quer e quando bem entende. Vai embora sem avisar e ainda ousa mandar um bilhete.
Aquelas últimas horas de sábado foram um pecado capital. Uma injúria cometida contra um coração machucado. Entrei no teu carro; Que ironia perversa. De imediato fui invadida pelo seu cheiro - aquele da pele, do contato do corpo, da sua vida. Fui intoxicada em alguns poucos segundos pelo o que eu tentava esquecer há semanas.
Uma recaída, uma lágrima contida. Eu não conseguia raciocinar. Os pensamentos estavam inundados pela traiçoeira saudade que me acometeu violentamente, naqueles minutos ao seu lado.
Isso foi silêncio - o choro mais alto que já tive. Eu estava demasiada frágil, inconsciente dos meus sentidos, quando de repente, você resolveu falar.
Sua voz.
Esforcei-me ao máximo para recobrar a capacidade de formular qualquer resposta para as tuas perguntas. Olhei para o espelho retrovisor buscando qualquer saída, e percebi refletido em meus olhos, o desespero inaudível de quem procura redenção. O choque de olhares foi inevitável. A sua expressão vazia, os traços do seu rosto mostravam de forma sutil, como é difícil para você também.
Não sei lidar com a ausência da aliança nos teus dedos, com a sua capacidade de me mandar embora tantas vezes. Os dias passam, a vida continua e o mundo não para seu ciclo tortuoso, só porque eu não te tenho mais. A verdade é que eu estou sempre lá, não mais aqui. Encontro-me em um mundo esquizofrênico, mas pouco importam-me os adjetivos dados. Não interessa-me mais o mundo exterior.
Estou onde existam lembranças felizes capazes de anestesiar o impulso de te procurar. Estou nos sonhos em que eu me esforço para te encontrar. Estou nos devaneios que mantém o meu coração mais perto do seu a cada novo segundo. Estou em um mundo onde eu e você seremos para sempre nós, sem nada, nem ninguém capaz de atrapalhar.

sábado, 26 de maio de 2012

#Analogia

Ousei nos comparar a um cigarro, hoje mais cedo. Foram meus pensamentos vagarosos, em contato com um sinal teu. Não consigo desviar as ideias do rumo que estão tomando. Foi você antes, é você agora e será depois. São pensamentos redundantes que - não importa a maneira - me guiam até você. Por vezes tento transparecer, por vezes tento esconder. Algumas horas procuro fugir, em outras rendo-me às lembranças.
É aquele maldito ponto de atenção.
Tudo ao redor parece ter hora marcada para fazer duvidar, lembrar e desistir de esquecer. Apesar dos esforços, ainda percebo-me incessantemente pensando em você.
-
Era um cigarro comum, sem chama, sem história. Lizo de preocupações. Você me fez acender, há exatamente um ano atrás, junto com você. A brasa, o amor; A fumaça, o encanto; A magia da história, do ato, começava a acontecer. Cada trago era um impulso, dava continuidade para não deixar que se apagasse. Ficava mais forte, mais intenso, em diferentes e contínuos hiatos de tempo. Em paradoxo, esgotava-se a cada segundo passado, e nós sabíamos. Seria chegada uma hora em que não haveria mais tabaco para queimar. Filtraríamos cinzas.
E foi em uma dessas crises de relacionamento que terminou nosso primeiro cigarro. Quase houve o fim, logo ali na primeira curva desta história. Tivemos uma ideia:
- Vamos acender mais um.
Acender outro cigarro, era como renovar energias de dois corações cansados.
Aprendi naquele momento: Crise nem sempre é uma palavra ruim.
Quando menos pude perceber, encontrava-me diante de um ciclo vicioso ao seu lado. Havia riscos, mas sempre haveria também, outro cigarro para curar qualquer chance de perder você. Prosseguimos. Vivemos intensamente o dia-após-o-outro e nos entregamos a algo maior, muito maior do que nós.
Hoje, ao olhar para trás, perco-me em um passado denso. Não é possível discernir datas exatas. Nos últimos anos tudo mudou de lugar, não deixou qualquer coisa sequer da maneira que estava antes de você entrar em minha vida.
Eu acenderia mais mil e um cigarros ao teu lado, só para não deixar jamais, isso morrer. Você por outro lado, terminou o maço e atestou desistência. Não quis mais continuar. Quer ir embora, quer se encontrar. E eu, como algo deixado para trás, vou acender meus cigarros sozinha a partir de hoje. Até quem sabe, encontrar alguém com quem valha a pena, algum dia, compartilhar.

"O pior de fugir de si mesmo é que cedo ou tarde, você se encontra. E quando se encontra, percebe que aquilo que você deveria estar correndo atrás acabou de ser encontrado. Por outro alguém. E, isso sim, é triste." - Lucas Silveira

domingo, 20 de maio de 2012

#Toxina

É como uma droga. Fluí rapidamente no sangue que corre pelas veias e artérias, fácil absorção. Uso contínuo pelos últimos onze meses: Diagnóstico improvável de cura. Dependência química, psíquica, física. Cada batimento de um coração exausto - não mais cansado - implora por alguma dose tua. Onde está você?
Te procurava em curtos períodos de tempo. Sabia que ao esperar demais, os efeitos já cairiam pesados sobre mim. É o som da sua voz, a inalação das suas palavras; Eu te procuro pelos cantos da casa a fim de ter ao menos, um pouco mais de você.
Para aliviar a dor, uma esperança fracassada. Você vai perceber. Eu não tenho como dizer, confesso que não te conheço mais. Hoje é apenas o segundo dia sem a sua presença, e eu não consigo lidar. Você invade meus sonhos e pensamentos, transforma o tempo em uma impiedosa medida de distância entre nós.
"Eu estarei sempre em seu coração."
Não quero lembrar. Não quero acordar.
"Vamos apagar da memória." Preciso lembrar, preciso aceitar.
Você é como um veneno sem antídoto. Tóxico, capaz de causar lesões até nas mais puras intenções. Destrói em pouco tempo todas as defesas de um organismo tomado pelo encanto do seu olhar. Presa fácil.
Basta saber se os teus danos sobre mim serão temporários ou permanentes. Os sintomas são inúmeros e eu não sei mais dizer.
Você é como um veneno sem antídoto, e como todo veneno, precisa ser expelido.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

#Exílio

Procuro ao redor doses de morfina para anestesiar a abstinência. A dor e a decepção tornaram-se rotineiras, simplesmente não consigo dar vazão aos pensamentos que atropelam, que levaram minha paz. O pesadelo é constante ao acordar. Abrir os olhos pela manhã traz o peso da verdade: Não vou mais te encontrar.
Escrevo com a falsa esperança de traduzir em parágrafos, o sombrio e melancólico abismo em que me coloquei. Eu lutei, defendi, procurei te avisar. Você não quis dar atenção.
Se eu desisti, é porque tentei demais. Posso combater, liderar, guerrear e resistir ao mundo inteiro, pois a maior força que existe no universo, está transcrita em cada mínima parte do amor que eu ousei construir por você.
De que adianta? Se a responsável pelo adeus, é exatamente a única com quem eu não posso lutar? Você nos trouxe até aqui, e eu não vou mais negar. Teus sinais foram dados, eu é que não quis enxergar.
Incapaz de ser fiel à quem mais te faz bem - e eu não me refiro só a mim. Pode dizer que é arrogância, prepotência. Eu não vou mais me calar. Não dá para continuar com as vendas nos olhos depois de tudo o que eu me permiti enxergar de ti.
Cheguei à conclusão: Eu nunca soube quem se esconde por detrás deste sorriso que por tantas vezes eu chamei de o mais lindo do mundo. Por detrás deste olhar, que esconde as mais sinceras lágrimas nas madrugadas sozinhas. Procurava por mim. Não mais.
Eu tirei de você tudo o que necessitava para ser feliz. Era suficiente, nada a menos e nada a mais.Você era a melhor parte de mim, até não ser mais. Hoje eu sei, apesar de não admitir, quem eu amei nunca existiu. Ou se existiu, é covarde demais para tomar uma posição e priorizar o amor sincero, construído dia-pós-dia, por cinco corações que só queriam seu bem.
Deixou-me inúmeras feridas em diversas fases de cicatrização.
Você fez sua escolha, não soube lidar. Preferiu manter-se dentro dos limites seguros que criou para não ser julgado. Quer uma platéia de falsos aplausos, pois nem ao menos sabem o que esconde-se nas páginas da sua vida. Parabéns, ganhou mais alguns. Porém talvez, os únicos sinceros. Aplaudimos em pé a sua capacidade de perfídia, deslealdade e traição. Percebo que não te acomete, nem aos pormenores, o peso da culpa, da desonestidade que carrega consigo todos os dias.
Um aviso: desta bagagem, não há como se livrar.
Eu carrego o abatimento, o fardo ingênuo de conformar-me do quão cega eu estava por não notar. Apesar das tuas excelentes graduações em mentiras escancaradas, tudo fez sentido quando eu peguei as partes da história e montei peça por peça o quebra-cabeças que as tuas contradições não foram capazes de sustentar.
Você prometeu mais do que o espetáculo cumpre. E eu me contive a assistir cada ato e cena, cada cenário e figurino, antes de deparar-me com o que havia por detrás das cortinas.
Sou apenas mais uma vítima dos teus planos, do seu sorriso cativante; Corrompida pelo ciclo vicioso de amar você. Facilmente manipulada, com muito amor e o pior dos defeitos: Capaz de perdoar.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

#Heterodoxia

Quem é você? Porque eu não sei mais. Eu não te vejo, eu não te escuto, eu não sinto mais sua presença ao meu lado. Eu não vi passar, não vi mudar, eu mal pude perceber que o beijo apaixonado transformou-se em algo vazio, sem significado. Eu pedi, eu rezei. Queria sentir algo. Sentir raiva, sentir dor, sentir as pulsações aceleradas de um coração tomado pela adrenalina.
Não há mais coração.
Tudo o que sinto é o gosto amargo do vazio, da impiedosa decepção que me congela os batimentos e anestesia os pensamentos. Simplesmente não consigo raciocinar.
Quem é você? Porque eu não sei mais. Este cinismo constante que te acompanha tornou-lhe um excelente intérprete. Uma pena, no entanto, eu ter que te lembrar mais uma vez:
A verdade sempre aparece. Quem é você? Porque eu não sei mais. Sempre cobrou sinceridade, sempre julgou todas as mentiras e agora brinca de esconder-se. Do mundo, das pessoas, de mim. Omite o necessário, o desnecessário e o essencial.
Quem é você que eu não conheço mais?
Hoje eu me pergunto: Será que algum dia eu conheci? Todas as minhas lembranças transcendem o som da sua voz que insiste em repetir frases vazias. Ecoam em mim e eu recomeço a rezar.
Protegei-me de todo mal. 

sábado, 12 de maio de 2012

#SemTítulo

Eu tenho observado as cores, os cheiros, os gostos. Eu tenho procurado agir de uma outra maneira para não me perder. Há tantas pessoas noite afora. Nenhuma delas é você. Maio chegou e trouxe consigo o frio das madrugadas, que há exatamente um ano atrás me levaram até você. Faltam palavras para descrever todo o sentimento que eu ousei construir.
Se ao menos pudesse perceber... Eu só peço você.
O primeiro reflexo é o impulso, a vontade de dizer. Eu já te disse, você não ouviu. O primeiro sintoma é a dor, um coração acelerado e toda a frustração de ser menos do que eu já fui. Passou.
Cada vez mais eu aprendo que esperar passar é a melhor opção. Eu não quero um outro alguém, eu te quero de volta. Eu te quero como a primeira noite para todo o sempre. Você ainda mora aí, eu sei, porque este alguém ainda me aparece nos momentos a sós. A noite cai e eu te observo voar para longe de mim. Eu espero, nem-tão-paciente, pelo teu sorriso na volta.
Eu menosprezo o mundo com o egoísmo de dizer: sou sua, e de mais ninguém.

domingo, 22 de abril de 2012

#24h

É melhor não ver, assim dói menos. Esta é a mentira que eu não canso de repetir.
Por muitas vezes eu fugi das tuas palavras, assim como também já procurei por elas. Hoje não sei mais o que pedir, ou ao menos, esperar de você. Aprendi que silêncio não é sinônimo de paz.
Faz 24 horas desde que a tua última frase foi direcionada à mim. Faz 24 horas que eu me perco em pensamentos constantes do que é a minha vida sem você. Observo a vida passar e não sei mais para onde ir, ou o que fazer. Talvez eu simplesmente não contasse com a efemeridade do seu amor. Queria ao menos poder receber, por uma última vez, aquele teu sorriso apaixonado dos primeiros meses desta história.
Eu repasso mentalmente todos os dias ao seu lado enquanto procuro pelos primeiros sinais de problema. Errei ao te amar demais, ao fazer demais, ao querer demais. Mas o que sou eu senão uma sucessão de erros e acertos assim como todos os demais?
Você me escapou etereamente, nas noites em que eu te procurava e você não atendia; Nos momentos em que eu deixei tudo ao redor, só para ter qualquer carinho seu.
O amor é um jogo de perdas, e esta talvez, seja minha última derrota. Eu realmente acreditei em nós. Em cada segundo dos meus dias, em cada momento, distante ou próximo, eu te amei da melhor maneira que pude.
Desculpe se isto não lhe foi suficiente, eu não posso mais tentar. Sinto a anomia me tomar por não mais te pertencer, sinto a perda da minha voz por não poder dizer tudo o que eu não canso de escrever, e como um último lapso de consciência, sinto-me incapaz, incapaz de viver.

#Dez?

Eu quero os amores impossíveis, aqueles com gosto de infinito. Os julgados, surrados e maltratados que ninguém quer.
Sinto-me atraída por toda a beleza do proibido, pela reciprocidade que eu peço e não posso ter. Sou feita de  extremos e sei que isso te incomoda, mas a verdade é que não sei viver à meio-fio como você, que omite-se até de sí mesmo quando chora em silêncio ao telefone.
Sim, eu sei. Eu já percebi. Sou apenas conveniente nos momentos a sós. Dói pensar, dói ouvir, mas está tudo aqui, em palavras que não ousam serem ditas, diante de olhos que não querem mais enxergar.
É ironicamente doloroso observar todas as verdades que você esconde, caírem no meu colo sem que eu faça qualquer esforço. Eu não as procuro. Quando o fiz, encontrei. Quando fugi, elas vieram até mim.
Percebi que não há como negar a realidade, não existe cura que faça o teu coração parar de machucar o meu.
Porém, a dor mais impiedosa está na ausência que me traz quando resolve ir embora. É demasiado hipócrita do meu coração não saber lidar.
Eu não sei lidar. É tanto amor que eu nem sei mais. É tanta dor que eu perdi minha paz.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

#Doses

Amanhã será mais um dia, mais um daqueles vazios sem a sua presença. Todos os dias eu venho ao mesmo lugar, te procuro nas sombras, nos cantos, nos olhares nem-tão-escondidos. Sei que te ver como eu te vejo ainda vai me cegar. 
Eu não vou mais dizer seu nome, e nem esperar que você diga o meu. O quanto eu já esperei em vão, o quanto eu já perdi de mim ao correr atrás de você.
Não mais.
Sinto vontade de partir, fugir para longe e esperar que ninguém jamais me encontre outra vez. Não importa; Logo depois eu volto contando os segundos para ver teu sorriso ao me receber. Queria ao menos entender o porquê eu não consigo sobreviver a você. Queria ter controle sobre as minhas atitudes nestas madrugadas tão frias, neste quarto escuro que só me traz vultuosas lembranças de ti.
Quando a dor se multiplica e as lágrimas são inaudíveis, eu tento substituir, rezo para esquecer. Sinto-me insuficiente de mim ao procurar as tuas doses ao meu redor. Eu bebo saudade a semana inteira e você parece se esquecer de tudo o que já prometeu na segunda-feira. Tento sentir, agarrar com as mãos o pouco de concreto que ainda me resta de ti.
Por querer demais, te deixei escapar.
Ainda há tempo para resgatar o meu erro? Pois percebo que talvez eu tenha errado este tempo todo. Procurar outra dor para poder cicatrizar a antiga.
Quanta originalidade.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

#Desculpas

Eu te ouço respirar cuidadosamente enquanto aprecio cada fração de segundo ao seu lado. Sinto um pânico adentrar-me ao perceber que não há nada que eu possa fazer para mudar esta realidade. Estou desprovida de solução, de cura para esta contagem regressiva imposta entre nós. 
Não há como mudar algo além de nossa compreensão. Sinto-me tão frágil quanto você por não ser capaz de te socorrer. Só existe agora o silêncio de quem sabe o que está para acontecer a seguir.
Eu procuro desesperadamente pelos teus abraços, pela sua presença, pelo seu sorriso e aconchego em todas as noites mal-dormidas. Cada momento desta história irá se eternizar em nós.
Não existem refúgios nem saídas, nada de concreto a que possamos nos agarrar. Porém, nunca se esqueça: Eu estarei ao seu lado até o final. Eu esperarei e sei que te encontrarei novamente em uma eternidade distante. Não há amor maior no mundo do que aquele que é estabelecido desde antes de nascermos. Quando nós nos separarmos outra vez, lembre-se de que estas não serão as lágrimas de um último encontro. Eu vou morar para sempre em ti.
Eu posso jamais me perdoar por não ter-lhe sido presente nos últimos anos. Não haveria como prever, mas ainda sim, dói entender que podia ter existido mais tempo para nós. Dê-me a sua mão, deixe eu te sentir. Desculpe por não poder encontrar a resposta, por não lhe ser suficiente.
Se ao menos eu pudesse prorrogar o epílogo desta história e capitular mais alguns anos em nossas vidas, eu faria qualquer coisa para que estivesse feliz.
Quem dera eu, poder mudar todos estes fatos imutáveis. Quem dera eu, poder dosar um pouco da saudade que irá me assombrar pelo resto dos meus dias. Quem dera eu pudesse cicatrizar todas as feridas que não querem se fechar e partir em seu lugar.
Ah, que inveja. O céu ganhou mais uma estrela.

#Ausência (parte II)

Não sei discernir o que é pior. Se é a sua ausência, ou o silêncio da sua presença. Dói perceber a minha incapacidade de distrair-me de você. Essa minha constante inclinação de hipostasiar os sentimentos, de te procurar a cada passo meu, corrói. Cada mínima parte minha te pede mais perto, e não importa o quão perto esteja, nunca parece ser suficiente. Não sei viver de amor saudável, pois este excesso de saudade, de querer, prejudica toda e qualquer razão. Perco-me em hiperbólicas idealizações do sentir.
Eu busco pelos dias melhores nos quais eu projeto nosso futuro construído cuidadosamente diante às tuas frases, aos teus pedidos, a como achar melhor. Eu busco por quaisquer saídas que me levem até você, mas as soluções se perdem de vista - ainda estão distantes demais. Eu espero impaciente enquanto a dor destes fatos presentes machuca e incomoda o coração cansado.
Não sei mais falar de amor sem pensar em você. Não sei mais viver meus dias sem esperar por você. Não preciso te perder para me encontrar outra vez. Existe em mim um desequilíbrio desmedido, um exagero, uma enorme impulsividade. Um abismo entre o tudo e o nada.
É incomparável a qualquer outro momento ouvir a sua voz me chamar no final de cada dia. Eu moro em cada nova batida do seu coração e não ouso prestar atenção em nada mais. 
A minha felicidade é composta pela soma dos teus sorrisos, dos teus olhares, da sua voz ao dizer meu nome nessa noite outra vez. Eu te procuro, eu espero e não encontro. Só me resta o silêncio da sua ausência até que consiga te achar novamente.

#Discurso

Com licença.
Eu vim aqui falar de amor, mais uma vez. Amor que transcende às batidas do coração, corre nas veias e infiltra-se etereamente nos segredos enregelados da nossa alma.
Não, eu não vim falar de ti, das suas promessas, das suas palavras, ou reclamar das nossas frustrações. Hoje estas palavras são exclusivamente minhas, sem menção ou referência a uma certa pessoa idealizada que, neste momento, se encontra há alguns quilômetros de distância daqui.
Pois bem, devo começar admitindo para os meus leitores invisíveis - ou quase inexistentes - que foi a inspiração humanista de um quase-discurso de valores igualitários, que me fez deixar um pouco de lado meu romantismo épico e vestir um espírito-crítico do assunto mais abordado nestes textos até agora.
Encontro-me diante de alguns caminhos tortuosos, faz algum tempo. Há mil retornos e saídas, porém, por alguma razão, insisto em prosseguir. A única companhia alegre nesses dias instáveis é o amor que construí em momentos concretos. Hoje me agarro a pessoas, lembranças, histórias e experiências que tornaram-me tudo o que sou através de um simples fato imutável.
O amor faz bem pra saúde.
Cheguei à conclusão de que não existe retrocesso ou anomia nas relações-base que levamos vida afora. Não importa o quanto mude, o quanto se transforme, um amor bem-construído nunca será vazio. Suas sílabas, cada uma delas, trazem consigo um mar de significados capazes de dar força ao mais fraco coração existente. E eu sei disso pois é por tais vias que eu me equilíbrio constantemente nos períodos difíceis.
Não venham os céticos me dizer que é possível ser feliz sem amar ou ser amado. Abstenham-se o quanto quiser, vocês não aprenderam a amar.

domingo, 18 de março de 2012

#Anemia

Sinto-me anêmica em nossa relação. Observo os seus atos e pergunto-me incessantemente, quais são as ausências que eu ainda não supri. Outra vez me encontro diante de uma decepção silenciosa, amarga, pesada de carregar; Não sei dizer o que dói mais, se são as tuas limitações ou os seus passos fora da risca que criamos para não magoar. Você negligencia as minhas razões enquanto eu tomo o cuidado de sussurrar nos teus ouvidos: Preste atenção.
Consegue discernir o som da minha voz? Quando age com descuido e desatenção nas noites de sábado, nas primeiras horas de um domingo. Eu procuro entender o ciclo vicioso em que nos metemos. Quais são os valores que te trouxeram à minha vida, porque eu já não sei mais dizer. Insensatos, não condizem com a realidade em que estamos. Se quer ficar, saiba que é o maior desejo meu. Eu jamais vou negar.
Aprendi que não existe dor desprovida de cura, e nem problema que sobreviva à simples solução de deixar o tempo passar. Porém, talvez, a saudade seja eterna. E ela existe mesmo quando ainda está aqui. Parece um fato exterior a mim, aos meus dias e pensamentos. Levo comigo as suas vírgulas, o seu toque, as suas palavras incoerentes que eu não me canso de recitar mentalmente. É a calmaria do amor, com a obsessão da paixão. Esta controvérsia de sentidos capitulam nossa história de maneira singular. Apenas nós podemos sentir, apenas nós podemos contar.

#Antagonismo

Momentos antagônicos, opostos, sinestésicos. Os dias, para mim, se passam em constante divisibilidade: Você e todo o resto. Nunca imaginei chegar aqui, mesmo sabendo que chegaria. Existe um vazio de percepções na transição do que era, para o que é. Difícil entender, fácil sentir.
As manhãs confortáveis, se transformaram em tardes clandestinas. Não sei se é errado, só sei que é amor. E quanto mais a gente tem, mais a gente quer.
Custa-me o mundo e mais um pouco, aceitar a  perda da nossa realidade que a cada dia se torna mais distante. Sinto falta do teu sorriso ao nascer de cada dia. Sinto falta das risadas, dos olhares e dos momentos confortáveis. Conforto é uma palavra ausente nos dias atuais. Mas vamos falar de nós, afinal, é sempre isto que me traz aqui; São as palavras que faltam, e as intenções que completam. Deixe-me entender este turbilhão de emoções que passa por todas as partes do corpo, antes de chegar ao coração. Dê alguma atenção. Pare de instigar o que não nos faz bem e procure o que nos traz paz. É só isso que eu peço nas minhas rezas inconscientes.
Parece que para cada ápice vem uma queda dura e fria, pra magoar, machucar, nos fazer duvidar. Eu já te olho com os olhos não-tão-inocentes de quem é cicatriz e quer muito sarar. Não leve a mal, mas passei a observar. Eu peço desculpas, inúmeras desculpas, mas eu precisava observar. Faria outra vez.
Pergunto-me constantemente se perdi a confiança, ou se é apenas prevenção, pois não quero mais me ver de joelhos, soluçando em madrugadas que eu não quero lembrar. O erro é perdoado, mas não esquecido. O amor é iminente, mas o ciclo, é implícito.

"Três anos para enxergar, um minuto para entender, um dia para acreditar.
Uma vida para esquecer."
  - Esteban Tavares

Encontrei ao acaso.

segunda-feira, 5 de março de 2012

#Corrosão

Ausência. É esta abstração de te sentir perto que incomoda, que causa necessidade. Eu procuro as tuas doses para curar a ressaca da abstinência. Parecem ser insuficientes as tuas palavras depois de alguns dias sem olhar nos teus olhos, sem sentir sua presença. Eu busco ser mais para evitar o vazio que quase nos tornamos. Eu tento descrever a saudade em uma falsa esperança de amenizá-la. São inúmeros refúgios que eu procuro em silêncio, são muitas as promessas as quais eu me agarro, a fim ter um momento para esperar a cada final de dia.
Noite. São as horas mais aparentes, adentram, cercam o meu "eu" nem-tão-ocupado. Traz febril estado de angústia. E eu espero, disperso, penso, repenso. Quero afastar as dúvidas mal-intencionadas, mas não importa, em algum momento eu irei ceder. Eu quero ouvir qualquer palavra sua, qualquer sinal de vida capaz de me fazer suportar a distância entre os nossos dias.
É pedir demais, um sorriso seu? Pode ser egoísmo, pode ser negligência. Pouco me importa os que discordam; Que fique claro outra vez: É no coração que reside o princípio e o fim de todas as coisas.
Dou prioridade a estes pedidos, dou prioridade a felicidade que eu sinto ao escrever sobre você. Ao pensar em você. Ao te ver, ao te querer. E até mesmo a minha arrogância, quando me convenço ser suficiente para te pedir aqui.

domingo, 4 de março de 2012

#Interprete

Diga a verdade que reside em teu coração. Diga qualquer coisa sincera que me faça querer procurar pelos teus olhos no quarto escuro novamente. Diga o que tiver para dizer, mas por favor, só não omita outra vez. Eu fechei as portas e as janelas para não deixar a luz entrar, e agora só você tem as chaves e os segredos necessários para chegar até mim. Eu preciso de um momento de reflexão, pois a realidade está turva, embaçada, difícil de enxergar. Tudo em que eu acreditava, sumiu.
Mesmo quando está perto, eu sinto a ausência de quem você é. Hoje eu não sei mais, mas por favor, deixe-me acreditar que um dia eu soube. Desde que o caminho estreitou sinto como se estivéssemos em uma constante contra-mão. Queria achar a cura para os nossos erros, para as nossas redundantes discussões. Você me quer de volta, e eu quero a verdade. Isto já é suficiente para que eu me permita te amar outra vez.
É sempre a minha voz que narra esta história, porém, por alguma razão é só a sua que eu consigo ouvir. As falhas, as oscilações, as frases incompletas. Eu te escuto, e as suas intenções disfarçadas ecoam em mim. Queria uma dose de certo, para o meu febril estado de dúvida. Foram muitas idealizações arrancadas com as mãos por um choque de realidade brutal. Por vezes quis ignorar, por vezes quis saber. Então decidi esperar. E a resposta chegou.
Ironia foi que tal resposta trouxe muitas outras perguntas e ao invés de cessar os pensamentos, escancarou as possibilidades. Agora eu vivo a meio-fio do sim e do não, instável, com medo de ter dado um passo maior do que a perna. Confiar demais acabou trazendo credibilidade de menos. Seria cômico se não fosse trágico, essa inversão de proporções e valores que a vida nos traz. Hoje eu vejo maldade onde ontem eu caminhava em paz. Perdi a inocência dos contos infantis, pois vivi na pele as lições de moral. A ilusão de um final feliz perdeu-se no passado de quem descobriu que não há fim. Somos eternos e não-duráveis, até que morte nos leve para algum outro lugar.