sexta-feira, 24 de agosto de 2012

#Guria

Em um jazz insólito eu poetizo o certo, os acordes errados, o que morre lentamente e o que ainda ousa viver dentro de mim. Pois sim, ainda morrem algumas partes de mim, quando eu ouço notícias das suas últimas lágrimas. Em outros dias, algum tempo atrás, eu não escolheria estas palavras para traduzir um coração em paz, fascinado com a capacidade de encontrar beleza em tantos lugares. Eu me apaixono todos os dias por mil e um sorrisos, e ah, aquele novo olhar. É a vida que antes passava despercebida pelos meus olhos cansados de enxergar.
Sentir é arte, transcrever é poesia, e eu ousei capitular cada fração de sentimento dos últimos anos. Eu degusto a saudade sem pressa, como um Whisky doze anos, uma lembrança esquecida que vale a pena reviver. Não dói mais.
É no desencontro que eu me acho. Não sei viver a meio-fio, a uma distância segura do tudo ou nada. Acelero os dias, apresso a vida, tenho sede. Quero fugir com destino a lugar nenhum. Minha instabilidade é constante pois a monotonia é ébria do rastro vazio e sem cor que você deixou. Existe um abismo agigantado entre meu pensar e o meu sentir. São extremos apartados, divergentes em conteúdo e significado. Existem hiatos de tempo que invadem meus dias sem permissão. Eles distraem e traem minha atenção.
Então eu paro, por alguns poucos minutos, e o coração se entrega à beleza perfumada, ainda deste mesmo jazz insólito. Arroga-se a mais uma outra história de amor, que nem ao menos é sua, e assim dança, canta, sorri e chora em conjunto com harmonia bipolar desta melodia orquestrada.

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"Oh, Sophia, eu encontrei alguém melhor do que você..." -¡Adiós, Sophia!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

#Dezoito

Todo veneno foi expelido. Suas más intenções disfarçadas não mais podem causar dor, pois a partir desta data, o novo é antídoto contra todo o mal que você já me fez. O novo é expectorante. O tempo foi desgastando e descolando do seu rosto, os pedaços da porcelana que compunham de forma rudimentar, a máscara que te escondia dos meus olhos.
Inicia-se seis de agosto, com quarenta e cinco minutos passados, e desde o primeiro segundo eu experimentei a paz. Eu selei o luto de tudo o que um dia eu ousei sentir por você, quando memorizei a última lágrima que eu me permiti derramar por este amor doente. É esquizofrenia pensar que você, em algum momento, aprendeu a amar.
Estas também são as últimas palavras minhas que farão referência a ti. A partir do dia de hoje, eu te fecho, eu te encerro e te tranco em um passado sem volta, no infinito pérfido de nós dois. Não mais compartilho este frio depresso, tão presente em lugares ermos como o seu coração. Eu não virei a página, eu fechei o livro. Aqui eu denoto o meu próprio cemitério das boas-intenções. 
Cansei de apesar dos pesares te pedir perto. Cansei de apesar dos pesares estar ao seu lado sem reciprocidade. Cansei de apesar dos pesares passar por cima de todos os seus erros e desejar-lhe o melhor, pois foram por estes apesar dos pesares que eu te descobria e não queria acreditar. Ofereci todas as chances para que eu não precisasse crer nesta carência de verdade que existe em você, porém, depois de tantos convites refutados, não restou-me outra opção senão aceitar que isto que o espelho mostra, é sua identidade efetiva. E ao posicionar-me ao seu lado, em um devaneio que clamava por contradição, percebi que eu sou bem melhor sem você. Sua presença não constava, tampouco acrescentava, e eu entendi que a palavra que é capaz de te descrever com maior precisão é ausência.
Inicia-se seis de agosto, e agora os números estão por volta de quase duas horas passadas. Expulsei seu fantasma e apelidei a cura de Os Dezoito.

"As boas novas do passado, são velhas novidades que eu já não quero escutar." - Esteban

sábado, 4 de agosto de 2012

#Agosto

Vejo tantos copos cheios e pessoas vazias. Eu procuro em inúmeros rostos, um espelho seu. A noite cai e eu ouso respirar a vida longe de você outra vez. Estou criando uma certa sobrevida diante de todas as nossas lembranças, porém ouvir aquela música tocar flanando pelas mesas do bar, em meio a uma madrugada boêmia qualquer de agosto, é como embriagar-se de saudade em um gole só. Perdi a lucidez por aqueles três, talvez quase quatro minutos.
Eu consegui sentir um gosto seu. E dói admitir o quanto eu queria poder olhar nos teus olhos, por alguns poucos segundos, como quem compreende sua mudez e retribui calada: Eu também. Como vai a vida sem mim, como vai você que me esqueceu? Eu sinto o sangue fluir nas veias, mas não aquecer o coração. Nós somos tão jovens, tão jovens - por que tens tanto medo de viver?
Foi uma pausa, uma faísca de você que ousou acender-se e desorganizar meus pensamentos. Desviou - mesmo que por aqueles três, talvez quase quatro minutos - a minha atenção. E eu te resguardei em silêncio no meu coração. Em meio a tantos sorrisos e vidas atravessando a minha, eu parei o tempo e permiti-me sentir você. Por uma fração de segundo, nas horas madrugadas de ontem, eu lhe pertenci. Uma solidão a doisPassou.
Não mais.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

#Amparo

É como escutar uma canção antiga, sentir a nostalgia de um passado distante. A sensibilidade das tuas palavras trouxeram-me lembranças confortáveis, olhares cautelosos que têm medo de revelar demais. Eu senti sua falta. Percebi.
O quanto você disse em entrelinhas que eu resguardei. Por detrás do sorriso, seus olhos mostravam-me claramente, a história viveu em nós dois. Eu te senti perto, como nos primeiros dias. É estranho reviver um amor e ao mesmo tempo, sofrer por outro. Senti o paradoxo entre prosseguir e voltar atrás.
Os pensamentos invadiram sem pedir licença. A verdade é que imaginei uma vida ao seu lado outra vez. Não me leve a mal, não estou passando por cima do espaço que a vida colocou entre nós; Foi só um devaneio perdido, por um coração que está cansado de sofrer por quem desistiu de lutar.
Você sempre trouxe conforto, e os outros, nem tanto. Trouxeram a sede, a vontade, a obsessão e os meus delírios mais profundos. Você era calmaria e toda aquela minha paz que há muito tempo eu não consigo encontrar.

#Renúncia II

A blasfêmia contra o amor, é responsável pela tristeza que carrega no olhar, por esta sua covarde vontade de fugir e anunciar sutilmente um adeus mudo, só para perceber se alguém vai lhe pedir para ficar.
Não mais.
A etimologia de nós deriva de um amor esquizofrênico entre um eu e um você que não mais falam a mesma língua. As prioridades divergem, e eu não sei mais lidar com a sua presença, com esta distância calculada que nos coloca a meio-fio de uma saudade constante.
Eu costumava completar as tuas frases e o seu coração, hoje eu não sei mais o que mora em você. Eu viro madrugadas tentando evitar os pensamentos que assombram e insistem relembrar como foi que eu cheguei aqui.
Não importam-me mais os vácuos de vaga definição que possuí o tempo, se ele cura, se ele passa, se ele corre, ou se ao menos existe. Pois às vezes eu ainda te procuro nos cantos, mesmo sabendo que não vou encontrar. Às vezes eu até te espero, mesmo sabendo que não vai voltar.
Boa Sorte.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

#Poesia

Escrever para curar a alma, um coração deixado para trás. Poetizar as dores, exorcizar os rancores, sentir a ressaca de tudo o que me tira a paz. É hora de sentir. Deixar vir. A verdade é que eu desperto todos os dias sem vontade de mudar a realidade que a sua ausência me impôs.
As noites caem e eu procuro qualquer quarto escuro para me esconder. Não quero ver a lua e as estrelas que um dia você me deu. Foi uma madrugada qualquer de Janeiro. O litoral, o som das ondas do mar.
São lembranças que não se cansam de me assombrar. 
Hoje os dias são só o caos de uma cidade programada para não parar. São alguns milhares de pessoas que passam despercebidas pelos meus olhos cansados de enxergar. Em todo canto, uma música vinda de algum lugar.
São versos jogados que não se cansam de me assombrar. 
O seu retrato está guardado, e eu não ouso desenterrar. De que adianta? A cada passo, em cada esquina tem um rastro para fazer lembrar. Foram tantas promessas, segredos ao pé do ouvido, um arrepio gelado que me faz parar.